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A conjuntura político econômica vivida no mundo atualmente tem trazido grandes desafios para o produtor rural brasileiro. Essa assertiva se traduz na luta constante do homem do campo contra a inflação, a alta de juros, a falta de crédito no mercado, os reflexos financeiros das perdas nas safras passadas, o aumento sucessivo no preço dos combustíveis e o impacto econômico mundial da guerra na Ucrânia, principalmente no que diz respeito à suspensão do fornecimento de fertilizantes à agricultura brasileira.
É preciso destacar que esse momento adverso tem sido agravado pelo sucessivo aumento dos preços de bens e serviços, acentuando o processo inflacionário que reduz consideravelmente o poder de compra da moeda brasileira. E mais, o apontado quadro sinaliza para a necessidade de maiores gastos com margens pressionadas, o que enseja o avanço da taxa básica de juros da economia. Aqui cabe ressaltar que, quando a taxa Selic sobe, o custo do dinheiro fica mais caro, dificultando o acesso às linhas de crédito e financiamento, dentre as quais aquelas ligadas ao Plano Safra.
A despeito desse revés econômico, vale lembrar que muitos produtores rurais estão lutando judicialmente para que não sejam leiloados os imóveis que ofereceram em garantia para a obtenção de financiamentos agrícolas, o que é feito tanto mediante a contratação de assessoria jurídica especializada para anular leilões, quanto através de renegociação bancária por novos prazos para pagamento ou por meio da contratação de novos empréstimos.
Por aí se vê que o atual cenário econômico é desafiador para o produtor rural, porquanto os custos de produção da safra 2022/23 se elevaram consideravelmente em um momento em que muitos agricultores ainda suportam efeitos econômicos adversos decorrentes da perda de safras passadas, culminando na restrição ao crédito necessário ao agronegócio.
Essa discussão é importante porque, embora ainda estejam na reta final do plantio da safra verão 2021/22, os agricultores já precisam cuidar dos preparativos para o próximo ciclo, o que enseja cuidados imediatos com o planejamento financeiro para a tomada de crédito para a compra antecipada de insumos, implementos, investimento em novas terras para cultivo, aquisição de máquinas e benfeitorias em geral.
Ocorre que o Plano Safra, apresentado recentemente pelo governo federal, é insuficiente para subsidiar a produção agrícola frente a tamanhos desafios. Em linhas gerais, o agronegócio é muito bom para os discursos políticos, mas nem sempre a previsão orçamentária do governo reflete a importância desse setor para o desenvolvimento do país, o que gera muitas incertezas para os produtores rurais.
Esse diagnóstico se alinha com a percebida transformação estrutural da agenda do crédito rural, marcada justamente pela gradativa diminuição do suporte então fornecido pelo governo federal, o que, ao seu turno, abre uma janela de oportunidades para que o produtor conheça e contrate novas modalidades de financiamento junto às instituições privadas, com condições diferenciadas em limites, juros, carências e prazos.
Vale considerar que o contexto macroeconômico brasileiro e global pós-pandemia com uma guerra em andamento é completamente diferente daquele que se tinha à época da preparação para a safra atual. Agora, este momento de incertezas não pode significar menos recursos para o produtor moderno, profissional e atualizado que sabe que só ter boa produtividade não é mais o suficiente para a conquista de resultados satisfatórios para sua empresa rural.
A atividade empresarial do agronegócio precisa abrir outras fontes de relacionamentos com bancos privados, bancos cooperativos ou com fintechs para ter acesso a juros aceitáveis, de modo a evitar a eterna dependência exclusiva dos recursos federais, que oscila ao sabor de interesses políticos da gestão governamental.
Como é imprevisível e pouco provável que haja uma rápida melhora nas atuais condições da economia global, o produtor rural precisa pensar no aproveitamento do preço em alta das cotações de milho e soja para a comercialização futura dessas commodities com as tradings, uma vez que essa é uma importante alternativa para a proteção do agricultor por meio da definição de preços para o ano seguinte.
Não parece uma boa alternativa a captação de recursos financeiros a juros altos para deixar em aberto o preço das commodities na expectativa de sua valorização em um cenário econômico muito oscilante, onde é provável a necessidade de se comprar insumos (adubos, defensivos, combustíveis, maquinários etc.) muito mais caros dos que estão em vigência.
A análise de toda essa conjuntura transmite a mensagem central de que o setor privado pode ser uma alternativa interessante para os produtores rurais que estão buscando recursos e que precisam deles para planejar ainda mais detalhadamente não só sua nova temporada, mas, principalmente, a gestão do seu agronegócio com uma boa saúde financeira.
Renato Dias dos Santos, advogado atuante em Direito Agrário e do Agronegócio, é membro da Comissão de Assuntos Agrários e do Agronegócio da OAB/MS e sócio fundador do escritório Renato Dias dos Santos Advocacia & Consultoria.