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A curva não é exponencial. E provavelmente não chegará a ser. Mas, em tempos de coronavírus, o interesse da população por notícias vem crescendo de maneira significativa em todo o mundo. Um conforto para os meios de comunicação que, regra geral, há anos observam atônitos a retração de sua audiência.

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O estudo Media Consumption and Sport, da Global Web Index, foi um dos que registrou o aumento após ouvir 4 mil pessoas dos Estados Unidos e do Reino Unido para verificar como o isolamento social vinha alterando seus hábitos de consumo de mídia. O resultado é pra lá de animador: 87% dos norte-americanos e 80% dos britânicos que participaram do levantamento afirmaram que, desde o estouro da pandemia, vêm recorrendo mais à televisão aberta, aos sites de notícia e às emissoras de rádio para se manter informado sobre a doença.

Porcentagens animadoras, mas não necessariamente surpreendentes. Apenas reforçam o que sempre soubemos: notícias relevantes e histórias bem contadas atraem e a população, independentemente do contexto, deseja estar informada. O que, sim, chama a atenção é que, mesmo possuindo outras fontes de informação digitais possíveis, o público tenha escolhido as tradicionais emissoras de televisão e os portais do notícias para manter-se atualizado e protegido da boataria.

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Mas não basta noticiar. É preciso que as notícias incidam diretamente na vida da audiência. Isso é o que afirma o estudo Consumo de Informações sobre o coronavírus no Brasil, publicado há alguns dias pelo Orbis Media Review, um hub de produção de conhecimento e análise de tendências no jornalismo que tive a alegria de ver nascer recentemente como um desdobramento do Master em Jornalismo. “O fato de quase a metade da amostra dizer que gostaria de saber mais sobre a situação do coronavírus em seu bairro e na sua cidade evidencia um problema maior que o jornalismo vem registrando mais amargamente nos últimos meses: a crise do jornalismo local”, pontua o informe que entrevistou 240 pessoas.

A população está cansada do jornalismo birrento, do jornalismo que mostra os dentes ao poder público, mas que não busca novas propostas. Apenas com a aposta por uma abordagem local, que escancare, sim, as mazelas sociais, mas que também mostre possíveis soluções é que os veículos serão capazes de dar à cobertura um diferencial perceptível. Só assim conseguirão dar o passo seguinte no processo de reconciliação com o público e transformar esses novos leitores em assinantes.

Os dois estudos já mencionados não são tão otimistas em relação a este ponto. O relatório do Global Web Index alerta sobre as fragilidades dos veículos frente às plataforma de entretenimento, por exemplo. Enquanto 30% dos entrevistados da Geração X (16 a 23 anos) disseram cogitar assinar os serviços da Netflix, apenas 5% mostram-se dispostos a pagar pelo New York Times. “As pessoas consideram as notícias como um recurso gratuito que será consumido durante o surto”, afirma.

No Brasil, o tamanho do abismo entre o consumo de informação e a propensão a pagar para acessar este conteúdo é similar: embora uma porcentagem bastante significativa diga estar dedicando mais tempo às notícias, apenas uma mínima parte projeta colocar a mão no bolso quando a poeira da pandemia baixar. No levantamento realizado pelo Orbis Media Review, apenas 5% dos entrevistados que ainda não pagam por produtos de mídia pretendem se tornar assinantes. A imensa maioria (75%) não pensam em estreitar suas relações com os veículos. “O desafio da indústria, portanto, vai além de entregar informação de qualidade e credibilidade. É preciso trabalhar a percepção do público diante de produtos editoriais, com foco no restabelecimento da confiança e no fortalecimento de uma proposta de valor”.

Audiência bombando. Notícias em alta. É um fato positivo. Mas até quando?  O jornalismo não é uma via de mão única. Para fidelizar é preciso conhecer, ouvir, admitir críticas, interagir.

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Carlos Alberto Di Franco é jornalista.