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Autonomia das mulheres: uma questão de tempo

Mulheres têm cada vez mais responsabilidades nos tempos atuais. (Foto: Shutterstock)

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O tempo é um elemento central para analisar as questões de gênero no bem-estar social referente ao uso do tempo e à distribuição do trabalho não remunerado no interior dos lares. Segundo a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), em todos os países da região com dados disponíveis, o tempo de trabalho não remunerado das mulheres é muito maior que o tempo que dedicam os homens a estas mesmas atividades.

Isso evidencia que o aumento da participação feminina no mundo do trabalho não alterou as relações entre homens e mulheres, na medida em que não foi acompanhada de uma maior participação masculina nos trabalhos domésticos e de cuidado não remunerados no interior dos lares. Com efeito, essa sobrecarga de horas de trabalho das mulheres atua como uma barreira tanto para a participação delas no mercado de trabalho em igualdade de condições com os homens, quanto para o consequente acesso a recursos econômicos que lhes permitam maior grau de autonomia.

Precisamos urgentemente jogar luz sobre esse trabalho invisível das mulheres, reconhecer sua importância e seu valor, além de tirar essa carga esmagadora dos ombros

No mercado de trabalho, as mulheres tendem a receber menos que os homens, ainda que tenham o mesmo nível de instrução. Quando se tornam mães, o peso da mudança recai principalmente sobre elas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) indicam que a divisão sexual dos trabalhos leva as mulheres a ter uma sobrecarga com as obrigações relativas ao trabalho doméstico, do cuidado com a casa e com os filhos. Já dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)apontam que 92% das mulheres ocupadas se dedicam aos afazeres domésticos, enquanto os homens o fazem de forma menos frequente (51,6%). O tempo gasto com o trabalho doméstico deixa nítida a divisão sexual na esfera doméstica. Enquanto as mulheres gastam em torno de 25 horas semanais com trabalho doméstico e com cuidados com a família, os homens despendem menos de 10 horas.

Se elas a maioria no trabalho doméstico, no âmbito do lar, e é preciso trazer à tona a invisibilidade do trabalho das mulheres no Produto Interno Bruto (PIB). Na teoria econômica, a mensuração das atividades econômicas não se preocupou em computar as tarefas de cuidado, desempenhadas pelas mulheres. Existe um ocultamento das tarefas domésticas que a teoria econômica não leva em conta por não ser objeto de troca. Logo, se não é objeto de troca, não possui valor monetário.

Como consequência, a privação da renda como um fator que limita o desenvolvimento e restringe as capacidades individuais agrava também as desigualdades de gênero, ao potencializar as privações sofridas, principalmente pelas mulheres. Nesse sentido, o economista indiano Amartya Sem reforçou a ideia de que reduzir a pobreza de renda significa, sobretudo, minimizar o grande hiato que separa homens e mulheres.

Embora as mulheres gastem parte do seu tempo nas tarefas do lar, o fato dessas atividades não serem consideradas produtivas faz com que não sejam contabilizadas nas contribuições. Precisamos urgentemente jogar luz sobre esse trabalho invisível das mulheres, reconhecer sua importância e seu valor, além de tirar essa carga esmagadora dos ombros apenas delas para que as relações de trabalho – e a sociedade como um todo – se tornem mais justas e igualitárias.

Edineia Lopes da Cruz Souza é economista, mestre em Desenvolvimento Regional, professora dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Campus Toledo e coordenadora do Grupo de Estudos de Economia Comportamental da PUCPR Toledo.

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