Quando os Republicanos perderam a eleição de 1856, Abraham Lincoln concebeu uma sóbria mensagem: “Quem quer que possa mudar a opinião pública, pode mudar o governo”. Quem escreveu o artigo anônimo do New York Times, no entanto, quer o contrário.
A maior revelação desse artigo do NY Times não é a visão do autor desconhecido sobre o presidente Donald Trump. É a tácita admissão da existência – e da arrogância – do deep state.
O deep state é a forma abreviada de se referir à vasta rede de burocratas de carreira e funcionários não-eleitos que trabalham para avançar uma agenda que nunca se depara com escrutínio público. Enquanto administradores vêm e vão, esses empregados do governo são imóveis em Washington.
Considere a mensagem do escritor do artigo para o povo norte-americano: Eu sou um pretenso “adulto” que “jurou frustrar partes da agenda [de Trump]” ao “cruzar as barreiras entre os partidos” e tomar a bandeira da “resistência ‘popular’ da esquerda”.
Esta é a mensagem traduzida do inglês governamental: Eu sou um insider que é mais inteligente que você e que sabe o que é o melhor, então vou minar a agenda de um presidente eleito democraticamente.
É a mesma mensagem da assim chamada “Resistência” contra Trump. É claro, publicações de esquerda como The Nation desmentiram o deep state classificando-o como “teoria da conspiração”. Mas em julho, Eugene Robinson no Washington Post elogiou-o em sua coluna: “Deus abençoe o Deep State”.
O tumulto que esse artigo provocou é prova de que as pessoas de Washington tomam a sua existência muito a sério
Não se engane – o deep state é real. O tumulto que esse artigo provocou é prova de que as pessoas de Washington tomam a sua existência muito a sério.
Mas, mesmo se o deep state é uma invenção da imaginação dos conservadores, sua contraparte – a estrutura administrativa do Estado – é um aparato de governo que os ativistas de esquerda reconhecem e trabalham ativamente para expandi-la.
Muitos dos grupos que protestam contra a presidência de Trump ajudaram a construir a estrutura administrativa e seu primo secreto. Pegue o caso radical do Environmental Defense Fund (Fundo de Defesa Ambiental), que trabalhou extremamente próximo, por anos, com a Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental) do presidente Barack Obama para arquivar ações judiciais que ampliaram regulamentações para uso federal da terra e proteção das espécies.
O fundo acusou o ex-administrador da EPA de Trump, Scott Pruitt, de ter um “etos corta-e-queima”, que poderia “retroceder mais de 25 anos de trabalho de abordagem em relação à ligação entre raça, pobreza e poluição – avançada por meio de ordens do Executivo, fundos dedicados, comitês consultivos de especialistas e movimentos de base”.
Talvez não seja com Pruitt que os ambientalistas devam se preocupar, mas com o vasto poder da EPA.
Os ambientalistas não são os únicos grupos de interesses especializados responsáveis pelo crescimento do tamanho e da força do governo federal, a tal ponto que especialistas em política tenham de cogitar a existência do deep state.
Bruno Garschagen: A direita, os intelectuais e os erros de análise (publicado em 23 de julho de 2018)
Leia também: Os norte-americanos são melhores que suas leis (artigo de Jose Antonio Vargas, publicado em 17 de setembro de 2018)
Em 2009, a American Civil Liberties Union (União para as Liberdades Civis Americanas), a Human Rights Campaign (Campanha para os Direitos Humanos), e pais, famílias e amigos de lésbicas e gays incitaram o Congresso a passar a Lei Matthew Shepard, que ampliou o escopo do poder do Departamento de Justiça ao expandir a definição de crimes do ódio.
E por baixo do Departamento de Justiça, os laços do FBI com os influenciadores de esquerda vão ainda mais fundo: Vanita Gupta, uma ex-delegada da ACLU, tornou-se a chefe da Divisão de Direitos Civis do Departamento de Justiça de Obama – a repartição responsável por processar os crimes de ódio – em 2014.
Os amplos poderes investidos em todos os departamentos do poder Executivo preparam o terreno para os empregados na Agência de Segurança Nacional, na CIA e no FBI exercerem suas próprias agendas e subverter o comandante-chefe. Pouco importa se o artigo do NY Times é real ou não, o fato que importa é: poderia ser. A possibilidade de um deep state operante ou de burocratas de carreira da estrutura administrativa do Estado trabalhando contra o poder Executivo desde dentro é inquietante.
A esquerda pode ter ignorado a papel do deep state nas administrações anteriores, mas isso é porque ele trabalhou amplamente – e continua a trabalhar – em favor da esquerda. Mas os esquerdistas devem considerar as consequências desse deep state voltando-se contra eles no futuro. Tal poder não pode ser deixado em mãos de oficiais anônimos e que não prestam contas.
Conservadores irritados com o pensamento de um vira-casaca em suas fileiras deveriam considerar também os perigos representados por tão poderosas repartições. Quando há uma mudança de guarda, os conservadores realmente querem enfrentar a perspectiva renovada de que o telefone e a caneta do Executivo continuem a empurrar a agenda esquerdista?
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