A Petrobras, marco histórico da modernização do Brasil, foi criada com o objetivo de dotar o país da capacidade de abastecer seu consumo de petróleo. Constituída praticamente do zero, a empresa dedicou-se à aquisição de capacitação tecnológica e industrial para entrar no seleto clube das grandes empresas petrolíferas. Graças à competência com que foi administrada, conseguiu estruturar a capacidade de refino e a complexa logística necessária para abastecer todo o território nacional com diversificada gama de derivados de petróleo no fim do século passado. No entanto, ela ainda buscava produzir no país o petróleo necessário para abastecer seu parque de refino.
A descoberta de vastas reservas no pré-sal induziu o ex-presidente Lula a anunciar que esse calcanhar de Aquiles da economia brasileira havia sido removido. Paradoxalmente, a produção de petróleo e de seus derivados permaneceu praticamente estagnada desde então, e perdemos a autossuficiência no suprimento de derivados de petróleo alcançada no fim do século passado. Não é necessária uma análise profunda para concluir que esse paradoxo pode ser explicado por erros graves na gestão estratégica da oportunidade histórica que nos foi oferecida pelas descobertas do pré-sal.
Para acelerar a produção de petróleo solicitada pelo governo, a Petrobras quintuplicou seus investimentos, mas negligenciou a expansão do parque de refino necessária para atender ao aumento do consumo de derivados e a preservação da produção de petróleo nos campos do pós-sal. Para atender à política de conteúdo local do governo, a empresa foi induzida a adquirir equipamentos não competitivos de fornecedores locais devido à ausência de incentivos governamentais adequados para a competitividade desses fornecedores. Para culminar, a empresa foi forçada a subsidiar os preços de seus produtos com o objetivo de preservar níveis de inflação compatíveis com suas metas macroeconômicas. Como não poderia deixar de ser, essa política esquizofrênica minou a saúde financeira da Petrobras.
Com custos crescentes e sem o fluxo de caixa necessário para dar sustentabilidade a seus planos de investimento, a empresa tem sido constrangida a postergar projetos e a recorrer ao mercado financeiro internacional para não abortar seus planos de expansão. Os efeitos nocivos dessa política não se limitam à fragilização administrativa e financeira da Petrobras. A postergação dos projetos de expansão da empresa aumentam as importações de petróleo e de seus derivados, com a consequente deterioração nas contas externas do país. A liderança brasileira na produção de petróleo no Atlântico Sul é minada, dificultando nossa inserção no cenário econômico global. O parque produtivo doméstico deixa de ser alimentado com as inovações tecnológicas do pré-sal necessárias para a garantia de sua competitividade. Empregos de qualidade deixam de ser criados no país, frustrando as expectativas de milhares de jovens que procuram melhorar sua qualificação profissional nas universidades.
É fundamental reverter essa política. A fragilização financeira da Petrobras não interessa aos brasileiros. Uma Petrobras forte, financeira e administrativamente, é essencial para que o pré-sal possa realizar sua vocação de passaporte do Brasil para o século 21.
Adilson de Oliveira é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Dê sua opinião
Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião