A maldição das commodities recai sobre a Venezuela. O país com a maior reserva de petróleo conhecida caminha para o colapso econômico, político e social. Prova evidente e triste de que líderes latino-americanos – de direita quanto de esquerda – sempre colocam o país na mesma encruzilhada beneficiando, no fim do espetáculo, grandes grupos econômicos na área produtiva, comercial, financeira e de comunicações.

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A Venezuela, como o Brasil e a Rússia, não aprendeu com a Noruega a administrar uma empresa estatal petrolífera para elevar o IDH de todos os seus habitantes. Gasolina e habitação subsidiadas são formas de inclusão social, mas já em 2005 o país sabia que não tinha recursos para isso.

Crescimento estagnado, renda restrita, juros altos e desemprego levam ao desespero

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Quando o barril do petróleo estava acima de US$ 100 no mercado internacional, os superlucros não foram utilizados para construir uma infraestrutura de capital físico que garantisse o desenvolvimento econômico no longo prazo. Além de o petróleo venezuelano ser muito oneroso para refinar, as receitas foram minguando com a queda de 25% em sua produção entre 1999 e 2005 e com o colapso do preço do barril a partir de 2014. Isso colocou pressão nos cofres públicos e a saída mais fácil para o governo foi emprestar dinheiro de banqueiros pela venda de títulos públicos e imprimir dinheiro. A primeira inciativa gerou crise fiscal e a segunda, uma inflação de 2% ao dia, regredindo o vizinho para o Brasil da época Sarney.

A desvalorização cambial e o mercado paralelo elevam ainda mais os preços e, sem dinheiro para subsidiar produtos básicos, aumenta a intrusão governamental econômica, política e nos meios de comunicação. Isso leva ao confronto com a comunidade de negócios, enquanto que o Congresso de maioria oposicionista asfixia as opções do governo. Crescimento estagnado, renda restrita, juros altos e desemprego levam ao desespero. O resultado líquido é confronto político e possibilidade de calote nas obrigações oficiais.

Com prateleiras vazias, as pedras falam nas ruas. Nicolas está maduro e pode cair da árvore a qualquer momento. O que vai derrubar o regime não vai ser a ideologia, nem os militares e nem a elite, mas o preço dos alimentos, da cerveja e do papel higiênico. E a baderna atual será apenas mais uma nota de rodapé na trágica história da Venezuela desde que foi inventada.

Masimo Della Justina, economista, é professor na PUCPR.