Se você não está familiarizado como o assunto, há dias um grupo de centenas de jovens está reunido na capela da Asbury University, no estado do Kentucky, EUA. Eles estão há dias orando, louvando e compartilhando experiências espirituais vividas naquele lugar.
Antes de tudo é preciso compreender o que está palavra “avivamento” significa. Ela é um termo preso à religião que traduz a ideia de trazer vida ao que está morto. É reviver. Quando uma comunidade de fé ou um grupo de pessoas passa por um despertamento espiritual. Os sentidos do corpo e a dimensão do espírito ficam mais aguçados e sensíveis à presença do sagrado.
Deixem os estudantes viverem sua experiência de fé. Se isso veio de Deus dará os frutos cabíveis do Reino de Deus.
Na história dos avivamentos geralmente se desencadeia algo que transpõe a realidade de uma instituição religiosa. Existem implicações sociais, ou seja, quando acontece um avivamento há uma clara dimensão da missão de Deus no mundo causando transformações sociais, econômicas, culturais, políticas e da dignidade humana no mundo.
Não é possível programar um avivamento. Não é possível dizer quando acontecerá e como acontecerá. O Espírito Santo de Deus é livre e sopra onde e como quer. Nos estudos desses movimentos religiosos só é possível saber com mais clareza alguns anos depois qual foi seu real impacto.
Existiu um caso de um avivalista norte americano chamado Charles Finney (1792 – 1875) que fazia inúmeras cruzadas evangelísticas pelo América e Europa. Ele era uma pessoa que sofria com alguns medos sobre a eternidade. Sofria de angústias na alma. Tanto é que nos seus encontros de cultos de avivamento ele separava sempre alguns bancos nas primeiras fileiras, que eram chamados de “bancos dos desesperados”. Quando ele estava em seu leito de morte, declararam que ele havia causado um fogo estranho e que era quase irreversível o que ele fizera pela igreja protestante.
É claro que é interessante, empolgante e contagiante ver centenas de jovens que reunidos há dias para buscar a presença de Deus.
Outro caso de avivamento norte americano documentado foi o do pastor Jonathan Edwards (1703 – 1758). Um homem considerado intelectual, Edwards foi professor em Yale e considerado um pregador de mensagens tenebrosas sobre céu e inferno. Ele ficou muito conhecido por um sermão chamado “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, durante o qual as pessoas tiveram a sensação de serem tragadas pelo inferno. Esse é um tipo de abordagem que gera distúrbio psíquico. O cérebro humano é capaz de produzir inúmeras sensações e bizarrices sobre a realidade.
No Brasil nos anos 90 a 2000 para cada ano surgiu um movimento diferente que era chamado por muitos como um período de avivamento. Tivemos cuspe santo, sopro santo, dente de ouro santo, paletó santo, ganido santo, vômito santo, emagrecimento santo com operação de anjo. As pessoas passavam por essas experiências e diziam que era real e sobrenatural.
O pior é ver pessoas de outros lugares desejando copiar o que está acontecendo lá. Diante desse cenário todo, o que desejo propor são cautela e paciência.
Antes, no Brasil na década de 60, houve um movimento espiritual de renovação. Um dos pastores líderes deste movimento foi José Rego do Nascimento (1922 – 2016), que foi o fundador da Igreja Batista da Lagoinha. Seu movimento reuniu um grupo forte de pessoas pelo país e levou até a uma separação da denominação Batista. Mas o acontecido, que durou pouco tempo, não passou de uma catarse. O pastor ficou psicologicamente mal e passou boa parte do restante da vida num asilo. Não conseguia mais falar sem chorar e tentar falar em “línguas estranhas”. No Brasil, nunca tivemos um avivamento de fato.
Um avivamento que realmente deixou impacto quase que global foi o experimentado por John Wesley (1703 – 1791). Enquanto ele pregava numa praça em Londres, as pessoas começaram a cair e confessar seus pecados. Ele ficou muito assustado com aquilo, deixou o local correndo e foi orar em casa para que Deus falasse o que era aquilo. Esse mover de Deus começou a transformar a realidade caótica de Londres. que vivia em trevas naqueles tempos. A prostituição, vida desordeira, desemprego, maus-tratos com os trabalhadores das carvoarias, bebedeira, famílias destruídas, todas essas coisas começaram a diminuir na sociedade. O analfabetismo diminuiu, as crianças saíram das ruas. Houve humanização dos presídios, o combate à escravidão, a luta por salários dignos para os operários, o fornecimento de ensino básico para as crianças pobres. Tempos depois nasceu o movimento Exercito da Salvação com o pastor e pregador William Booth (1829 – 1912) e sua esposa. Um lindo trabalho de resgate de vidas e transformação social ao redor do mundo.
Os EUA durante anos vivem uma crise de fé e teológica. O surgimento da Teologia da Prosperidade, a Teologia Coaching, os inúmeros escândalos de líderes religiosos de alcance internacional, igrejas com escândalos sexuais e desvios de dinheiro. Há uma orfandade na América, faltam referências para a nova geração.
É claro que é interessante, empolgante e contagiante ver centenas de jovens que reunidos há dias para buscar a presença de Deus. O problema disso é a sistematização desse encontro. A partir do momento em que se cria uma escala de ordem do culto, quem faz o que no culto e etc. se perde a liberdade da forma espontânea. O pior é ver pessoas de outros lugares desejando copiar o que está acontecendo lá.
Diante desse cenário todo, o que desejo propor são cautela e paciência. Deixem os estudantes viverem sua experiência de fé. Se isso veio de Deus dará os frutos cabíveis do Reino de Deus e veremos resultados espirituais, sociais, culturais, econômicas, politicas e artísticas no mundo como uma assinatura do Espírito de Deus que soprou lá durante esses dias.
Christopher Marques é bacharel em Teologia, mestre em Teologia e pós-graduado em Ciências da Religião. É autor dos livros “Um novo olhar para a missão da Igreja” (2015), “O que pensa a fé protestante sobre a política, cultura, sustentabilidade, trabalho e dignidade humana” (2017) e “Quando a Vontade de Viver Vai Embora” (2019).
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