Não, não é a salvação, mas ajuda muito. E, no nosso caso específico, contribui para dar solidez às instituições republicanas. As correntes políticas que estão à esquerda do cenário político, pela obviedade das suas posições, francamente contrárias ao regime de classes sociais e apostando sempre no quanto pior melhor para emplacar a sua ideologia, têm crises de urticária, quando se toca no tema, mero jogo de cena, porém, para encaminhar as suas questões com grande e aberrante oportunismo... A sua instituição, todavia, não tem nada a ver com afirmação de que tiraria a comida da mesa do trabalhador, assunto do teatro das eleições presidenciais que a então candidata à reeleição da época Dilma Rousseft patrocinou, seguindo a orientação dos seus “sábios” marqueteiros, hoje enrolados com a Lava Jato, buscando os benefícios da delação premiada. A que ponto chegamos! Quem tiver contato com as estórias persas inseridas no livro Mil e Uma Noites entenderá o significado dessas malandragens ilimitadas: “O interesse não conhece leis.”
Por que não é a salvação? Porque para combater a inflação e preservar o poder aquisitivo da moeda, certos expedientes têm de ser acionados, em parte ou simultaneamente, dependendo da magnitude do problema. Entre eles as políticas monetária e fiscal (a primeira, grosso modo, está relacionada com a administração das taxas de juro, com a quantidade de dinheiro na economia e com medidas que restringem a expansão do crédito, e a segunda, com os gastos do governo, ou seja, com o seu potencial de interferir na construção da demanda). Esses dispositivos têm o poder de aquecer ou desaquecer a economia, dependendo da direção que seguirem. Mas não é somente isso.
Os reajustes salariais devem estar em sintonia com o aumento da produtividade da economia
Existem outras variáveis macroeconômicas: o câmbio e os salários têm peso considerável nessa equação. Câmbio valorizado, por exemplo, significa que a moeda local está ganhando força; já, no câmbio desvalorizado, temos fenômeno inverso. Como o câmbio entra nessa jornada? Diante da sua valorização, os produtos importados ficam mais baratos e concorrem com os produzidos internamente, e estes são obrigados a baixar os seus preços em razão da concorrência externa. Já, na desvalorização, temos a ocorrência de fenômeno inverso – faço apenas um relato, pois nem de longe estou sugerindo o controle cambial como solução de alguma coisa – e quando muito o BC poderia atuar diante de acentuados gargalos, ou seja, quando existe redução exagerada de moedas fortes ou excesso. Seria até saudável que atuasse apenas para corrigir os extremos, em face da enorme repercussão que o câmbio tem na economia de um país: os preços da gasolina, do diesel e gás de cozinha estão nessa relação.
E os salários? Os reajustes salariais devem estar em sintonia com o aumento da produtividade da economia, pois se houver descompasso, a inflação ganha força, simplesmente porque temos a mesma quantidade de bens a serem ofertados. Portanto, com os reajustes, em vez de os salários aumentarem o seu poder de compra, o que temos, simplesmente, é inflação. Elementar; embora a confraria do politicamente correto viva a brigar com essa realidade, com propósitos subliminares. É fácil perceber a lógica que regula essa situação. De outro lado, os salários podem ser majorados, quando ocorre o aumento da produtividade, sem gerar inflação, porque esse ganho está apto a ser dividido entre capital e trabalho, tranquilamente e sem efeitos colaterais.
Não podemos perder de vista que, quando o governo combate a inflação, está trabalhando para estimular os investimentos e, por consequência, para preservar e criar empregos. Quando, porém, com ela é leniente, ocorre fenômeno inverso. Daí imputa-se a culpa ao neoliberalismo, um dos mantras acionados com frequência por esses setores que apostam na desorganização social e econômica do país como estratégia para conquistar o poder...
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Diante disso, podemos dizer que é dever impostergável dos governantes combater a inflação com os instrumentos disponibilizados pelos conhecimentos empíricos, em que pese as diferentes correntes de pensamento.
Outro aspecto importante relacionado com a eficácia do Banco Central independente: a fixação de limites para a dívida do governo federal, já prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal, mas até hoje não estabelecida, em face da omissão legislativa. Digo isso porque a dívida desordenada do Governo Federal, tanto quanto está posta, potencialmente está a pressionar Banco Central a emitir moedas para dar cobertura a essa situação, e o dispositivo constitucional de que o BC está impedido de financiar o Tesouro torna-se letra morta. Esse aspecto tem de ser levado em consideração, pois é de extrema relevância. Sobre esse fato, devemos ter presente que o câmbio flutuante aliviou o BC das emissões monetárias para atender as ocorrências cambiais.
Paulo Guedes, o novo Ministro da Economia, um declarado liberal da Escola de Chicago, não pode perder de vista essa providência, que carrega a sugestão de que façamos a substituição do teto de gasto, pela fixação de um percentual para a dívida federal, e é evidente que isso tem de ser feito gradativamente, até chegarmos à posição ideal e civilizada.
Na verdade, para os monetaristas, a inflação é sempre um fenômeno monetário. Assim, explicam o crash de 1929, que, segundo eles, foi provocado por excesso de moeda, depois veio a deflação e recessão, em face do enxugamento exagerado da moeda. Sobre isso eu me valho do provérbio chinês: “existe a minha ‘verdade’, a sua ‘verdade’ e a verdade...”
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