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| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na semana passada, o Banco Central decidiu reduzir em um ponto porcentual a taxa básica de juros, a famosa taxa Selic. Uma redução esperada por todos os agentes econômicos – para utilizar um jargão de finanças, a decisão do BC já estava no “preço”. Porém, a estrela da noite e o que todos esperam é o comunicado liberado junto com a decisão: é nele que o BC “fala” de fato.

E existia uma surpresa no último parágrafo do comunicado: “Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião”. Em bom português: os juros irão cair com menor velocidade.

Os motivos para uma queda mais devagar são dois e amplamente conhecidos: a crise política, e o fato de a reforma de Previdência estar na geladeira – ou seja, o segundo motivo é uma derivada direta do primeiro. Com a delação da JBS e com a prisão do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, forma-se uma imensa incógnita na continuidade do governo Temer e, por consequência, na permanência de sua equipe econômica, vista como excelente pelos agentes econômicos e, talvez, a única coisa realmente boa deste governo.

Dada a grande incógnita no governo, a incerteza toma conta, e isso pode gerar efeitos bastante indesejados

Mas por que, em um momento em que a atividade econômica começa timidamente a se recuperar e a inflação está em níveis baixíssimos, o Banco Central jogou mais esse balde de água fria sobre a economia?

Em um regime de metas de inflação, no qual o Banco Central persegue um objetivo claro de inflação (de 4,5% ao ano, no caso do Brasil), o órgão deve ser muito transparente sobre como alcançar tal objetivo, sinalizando quais são suas ações e quais os impactos que ele espera que as mesmas tenham sobre a economia. Tudo para não criar volatilidade desnecessária nos mercados financeiros e guiar as expectativas dos indivíduos e das empresas.

Dada a grande incógnita no governo, a incerteza toma conta, e isso pode gerar efeitos bastante indesejados, como uma disparada do dólar e até mesmo uma queda histórica da bolsa, eventos que efetivamente acontecem no calor do momento.

Leia também:A polêmica dos juros (editorial de 5 de junho de 2017)

Leia também:A Selic e o “efeito Joesley” (editorial de 2 de junho de 2017)

Mas e a inflação, que, nas expectativas, já está significativamente abaixo dos 4,5% para o fim de 2017? Não existiria espaço para uma queda maior dos juros, mesmo com todos os problemas? Pode até ser que exista, mas tudo isso pode ser jogado fora caso algo ainda mais grave ocorra no campo político; então, é melhor que o Banco Central seja cauteloso e segure suas cartas enquanto analisa o cenário. Movimentos errôneos de política monetária podem demorar anos para ser corrigidos – a alta inflação recente mostrou isso –, então é sempre prudente agir com o máximo de cautela.

Então, se existe um único farol capaz de iluminar, mesmo que parcialmente, a bacia das almas da economia brasileira, que ele faça isso da melhor maneira possível. Exatamente como o Banco Central fez dizendo claramente ao mercado que os juros irão cair mais devagar pois a incerteza da economia está alta. Com isso, o mercado reajusta suas expectativas, colocando-as de forma mais suave no preço dos ativos, sem criar movimentos bruscos nos preços. Em resumo: com menor volatilidade.

Em um momento no qual a equipe econômica corre real risco de vida junto com Temer, o desespero toma conta do navio e, em alguns momentos, quando a nave fica sem rumo, o faroleiro pode nos ajudar a evitar as perigosas rochas, colocando luz sobre elas. Rochas que poderiam pôr um fim à jornada da recuperação econômica. Desviar das rochas pode até atrasar a jornada, mas significa que chegaremos ao fim sãos e salvos.

Victor Candido de Oliveira, economista, foi pesquisador assistente do CPDOC-FGV-RJ, é mestrando em Economia, analista do fundo de investimentos Luminus Capital e cofundador e editor do Terraço Econômico.
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