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A consciência histórica, segundo o filósofo Jorn Rusen, articula, fundamentalmente, dois elementos: o passado, como experiência; e o presente e o futuro, como campos de ação orientados por este passado. O aprendizado da História tem como função ajudar a compreender a realidade passada para agir na realidade do presente. Por isso, a aprendizagem da História é um processo de digestão de experiências do tempo em forma de competências narrativas, entendendo-se “competência narrativa” como a habilidade para narrar uma história através da qual a vida prática recebe uma orientação no tempo.

O que me parece importante ressaltar é que a consciência histórica não se resume a conhecer o passado. Ela oferece estruturas para que, por meio delas, o conhecimento histórico tenha o condão de agir como meio de compreensão do presente e antecipação do futuro. A consciência histórica é, ao mesmo tempo, o âmbito e o objetivo do aprendizado histórico. Desta forma, apreender as operações mentais mais importantes para a compreensão histórica e, igualmente, elencar suas funções na vida prática consiste o que se pode definir como um aprendizado histórico satisfatório.

A consciência histórica é, ao mesmo tempo, o âmbito e o objetivo do aprendizado histórico

E é essa a preocupação dos currículos? Rusen estabelece três objetivos prioritários que devem conter o ensino de História e, portanto, a base curricular: a competência perceptiva, a interpretação e a orientação histórica, formadoras do que pode ser denominado de “competência narrativa” e que consiste na “faculdade de representar o passado de maneira tão clara e descritiva que a atualidade se converta em algo compreensível e que a própria experiência vital adquire perspectivas de futuro sólidas”. A competência narrativa que Rusen defende e que deve ser apreendida no aprendizado histórico pode ser decomposta em uma competência baseada na experiência – a competência perceptiva (a que permite distinguir com clareza o passado, na sua diferença e distanciamento do presente); uma competência interpretativa (a que busca conexões de significados e sentidos com a realidade presente) e, ainda, uma competência orientativa (a que integra a história interpretada no fluxo da experiência presente como capaz de orientar as ações do futuro).

Uma Base Nacional Comum para o aprendizado de História deveria começar com esse balizamento: a formação da consciência histórica por meio da apreensão, interpretação e orientação das narrativas sobre o passado, voltados para a constituição de sentidos para o presente e para o futuro. Reduzir, como está sendo feito, a discussão da Base Nacional Comum a um puxa-repuxa de conteúdos, períodos históricos e contribuições étnicas é muito pouco para o que se pode alcançar com essa mudança. O que é importante, no ensino fundamental e médio, é que as crianças e os jovens sejam capazes de compreender e usar os conceitos que compõem as narrativas históricas – povo, Estado, etnia, economia, sociedade, cultura etc. – e, sendo expostas a estas narrativas, múltiplas e multiperspectivadas, apresentadas de forma clara e agradável, desenvolver essa orientação cidadã sobre o presente e futuro.

Como o que se espera é uma contribuição de todos nesse momento de construção dessa Base Nacional, esta é a minha. Penso que ainda há tempo para que o olhar sobre essa mudança possa ainda vislumbrar essas preocupações.

Daniel Medeiros, doutor em Educação Histórica, é professor de História no Curso Positivo.
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