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Houve um tempo em que a conservação dos alimentos era feita pela sua imersão em recipientes com banha de porco. As comunicações eram lentas porque as estradas e as ferrovias eram precárias ou inexistentes; sem água encanada, a escassez determinava o banho em chuveiro de balde, as mãos e o rosto lavados com uma pequena porção derramada numa bacia.

Sem esgoto, o banheiro de resumia a uma "casinha" localizada nos fundos da moradia. As florestas representavam recursos disponíveis para manter as casas e mover as indústrias. A luz dependia da combustão do querosene do lampião, e a energia da roda do moinho. A caça era um esporte popular motivado pela competição acirrada de quem matava a maior quantidade. Essas foram algumas características marcantes de um período da Humanidade.

A tecnologia foi o principal instrumento de transformação desta realidade.

As distâncias foram encurtadas, o conhecimento e a informação foram disseminados com rapidez, mas os benefícios não foram distribuídos de forma equânime entre os diversos segmentos da população. Milhares vivem ainda aquele cenário.

Alterar esse quadro é responsabilidade de todos os cidadãos, e particularmente dos engenheiros e arquitetos associados ao Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). Nós somos agentes do desenvolvimento sustentável.

A proposta do IEP é estimular a reflexão sobre os temas na busca de alternativas.

Para iniciar esse processo trazemos o testemunho de um personagem conhecido dos engenheiros e arquitetos: o mestre-de-obras.

Ele está presente em todas as obras de engenharia. Geralmente não possui formação acadêmica superior, e é escolhido entre os companheiros pela sua capacidade de observação e espírito de liderança. A experiência, ele adquire na universidade da vida; sem ele a obra não acontece.

Pois bem, o senhor Batista é um mestre-de-obras com quase 30 anos atuação nos mais diversos canteiros.

Ao retornar da conclusão de uma obra realizada numa das praias do Paraná, ele rompeu o silêncio resultante do desequilíbrio cultural e perguntou: "Doutor, quando é que descobriram o gás?"

Diante do meu silêncio, ele lançou o olhar para a exuberância da Floresta Atlântica e arrematou com sabedoria: "Se não tivessem inventado o gás esta floresta não existiria; tinha virado lenha".

Recorremos em seguida ao testemunho de um ambientalista respeitado – o doutor José Lutzenberger. Em recente entrevista, ele declara que o movimento ambientalista já passou por várias fases. A primeira, na década de 60, foi a fase da descoberta dos problemas ambientais. Os anos 70 foram a fase de confronto, das grandes brigas. Nos anos 80 tecnocracia e governo começaram a reagir, surgiam os órgãos oficiais de controle ambiental. Muitas indústrias começaram efetivamente a desenvolver consciência ambiental e sentirem-se responsáveis.

Agora, após a Rio-92, toda pessoa inteligente, bem informada e pensante sabe que a nossa cultura industrialista global é insustentável e que se quisermos sobreviver como espécie e civilização teremos que repensar o que entendemos por "progresso" e por "desenvolvimento".

Também são sábias as reflexões de Lutzenberger. Delas extraímos a principal motivação para o evento "Engenharia e Biodiversidade", que realizamos em Curitiba, em paralelo às duas conferências da ONU – MOP3 e COP8: É imperativo que a fase do confronto seja substituída pela do entendimento.

As partes precisam sentar à mesa para deliberar com a consciência de que a ausência de educação adequada, o tempo perdido nas filas da burocracia, a fragilidade das pessoas e das empresas são veículos que conduzem à depredação do ambiente. E não devem jamais esquecer a lição de Disraeli: "Se os homens são puros as leis são desnecessárias. Se desonestos, as leis serão inúteis".

De outro modo, todos sabemos que o investimento em pesquisa e tecnologia resulta num poderoso instrumento, talvez o mais significativo, para enfrentar os desafios do presente e do futuro.

Nessa mesa, não haverá lugar para os cínicos nem para os oportunistas.

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