Nos meus mais de 20 anos de atuação como bancário, vi o papel-moeda sofrer muitas alterações, que vão desde a troca no padrão monetário até o lançamento de notas de diferentes valores. E a certeza que adquiri observando essas mudanças é que uma hora ou outra ele ficaria obsoleto. De fato, os dias das cédulas como conhecemos estão contados e seu espaço está sendo tomado pelo que chamo de “dinheiro de plástico”, o cartão. E não sou eu que estou falando. São as pesquisas.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Crédito e Serviços (Abecs), houve um aumento de 20% nas transações por meio de cartões de crédito apenas no primeiro trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano passado. Estão incluídas nestas estatísticas as modalidades de crédito, débito, por aproximação (chamado de Near Field Communication – NFC), pinpad e transferência eletrônica de fundos (TEF).
Holanda e Suécia são exemplos de países em que as notas e moedas já caminham para o desuso. E são três as principais vantagens que norteiam a substituição das cédulas. A primeira é a segurança. Muitas pessoas ainda vão ao banco apenas para sacar dinheiro e depois se dirigem a uma casa lotérica para pagar as contas. Um grande perigo, já que, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o número de assaltos no Brasil é pelo menos duas vezes maior que a média mundial.
O segundo motivo é a comodidade. Esqueça o desconforto da falta de troco e da carteira cheia de notas. Higienizar um cartão também é bem mais fácil. Por fim, controlar os gastos é o terceiro pilar que justifica a adoção completa do dinheiro de plástico, uma vez que é muito mais fácil ter controle do que está sendo pago ou comprado por meio de uma fatura detalhada ou do próprio aplicativo no celular.
Uma pesquisa da Americas Market Intelligence em parceria com a Mastercard mostrou que o número dos desbancarizados, ou seja, pessoas que não têm conta bancária, caiu 73% durante a pandemia. Há muitas explicações para esse fenômeno, mas uma das principais está na facilidade para se abrir contas graças aos bancos digitais e à transformação tecnológica das instituições bancárias – que sofrem com a extinção de agências, mas resistem nos aplicativos.
Precisamos considerar, ainda, que, mesmo com celulares, pelo menos 40 milhões de brasileiros não têm acesso à internet, conforme dados do IBGE. E é aí que se abre um leque de oportunidades para soluções igualmente tecnológicas, mas acessíveis, que descentralizem dos bancos e lotéricas a competência de receber pagamentos de contas, como totens de autoatendimento, que oferecem serviços que incluem desde recarga de celulares até o parcelamento de boletos apenas usando um cartão de crédito ou débito.
Das 18.658 agências bancárias ativas no Brasil até o fim de maio, de acordo com a relação de instituições financeiras disponível no portal do Banco Central, 54,5% estão localizadas em regiões denominadas “centro”. Sendo assim, locais mais afastados e periféricos são os mais penalizados, e é onde devem estar – e estão – estrategicamente posicionados esses totens, promovendo a acessibilidade. As taxas aplicadas, que justificam sua existência e funcionamento, são até 50% menores que as praticadas pelos grandes players financeiros.
O futuro está à porta e precisamos facilitar a sua entrada.
Antônio Brizoti Junior é empresário do segmento de tecnologia e serviços financeiros, fundador e diretor-executivo da fintech Parça Serviços Financeiros.