| Foto: Isac Nobrega/PR

Um sistema econômico saudável deve permitir a ascensão social pelo trabalho honesto e não a decadência estrutural e a piora da qualidade de vida. A partir de uma visão atrasada e refratária às forças produtivas do mercado, o Estado foi sendo indevidamente usado como válvula de promoção patrimonial no Brasil. A sangria pública foi tanta que virou hemorragia generalizada, criando um viciado hábito coletivo de dependência estatal. De bolsas assistencialistas a empréstimos subsidiados, muita gente garantiu o seu, prejudicando aquilo que é nosso. Embora as viúvas soviéticas ainda neguem, o fato é que o estatismo é um modelo de materialização de injustiças: limita a existência de muitos, beneficia a de poucos e, no fim do dia, explode com o equilíbrio orçamentário das nações.

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A tese recente de que, no Brasil, mais pobres ingressaram na classe média é falaciosa. Quem olha a realidade sabe que foi a classe média que desceu à pobreza, tendo substantivas perdas em seu poder aquisitivo. Ou será que hoje uma família de padrão médio pode pagar escola particular, ter plano privado de saúde, imóvel e automóvel próprios e, com as economias de uma vida inteira, comprar uma casa de praia? Pois é, isso já foi possível, mas, em algum momento, perdeu-se.

O problema é que não se organiza uma máquina estatal desgovernada em questão de horas. Algumas engrenagens são difusas e profundas, tendo raízes ramificadas por toda estrutura pública. Não é por acaso que a corrupção é sistêmica no Brasil, tendo canais de irrigação por toda coluna vertebral do Estado com pontos nervosos de alta sensibilidade política. Logo, mudar o telhado do governo é fácil; difícil é quebrar as paredes do parasitismo estatal.

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A tese recente de que, no Brasil, mais pobres ingressaram na classe média é falaciosa

Felizmente, inicia-se um novo ciclo governativo no Brasil, trazendo consigo a esperança de um futuro melhor. Como brasileiro, torço pelo estrondoso sucesso do governo recém empossado, desejando êxito pleno em suas necessárias investidas por um país mais moderno, próspero e decente. Sim, erros naturalmente existirão, pois ninguém é perfeito. Mas, se for para errar, que tenhamos erros inéditos, erradicando os vícios e desvios da velha turma que passou.

Se me fosse pedido um conselho, meu tom seria reto: na democracia do século 21, as pessoas não aceitam ser enganadas. A liberdade de informação das redes sociais acabou com a escravidão das versões oficiais. Não adianta, portanto, querer dizer que o quadrado é redondo. Aqueles que quiserem ludibriar o povo estão condenados a ir mais cedo para casa. Ninguém é intocável. Num mundo que exige transparência radical, as torres de marfim são cada vez mais permeáveis.

No todo, pela grandeza de uma justa causa comum, as pessoas aceitam passar por sacrifícios, mas são absolutamente reativas diante da mentira política. Há, portanto, uma nova dinâmica democrática no ar que exige um poder de comunicação fácil e sincero do governante com os governados. Não se trata apenas de retórica, mas de uma viva expressão de imagem, reputação, inteligência e boas práticas.

Opinião de Gazeta: O jogo começou – outra vez (editorial de 11 de janeiro de 2018)

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Leia também: Reconstrução do país deve ir além de retórica (artigo de Luiz Carlos Borges da Silveira, publicado em 10 de janeiro de 2019)

Apesar de toda a torcida positiva, os riscos do insucesso são altos e substantivos. As pessoas, engolfadas em dificuldades dilacerantes, andam sem paciência para explicações complexas; querem respostas rápidas e instantâneas, abrindo, paralelamente, o flanco para um perigoso populismo rasteiro. Nesse contexto, a democracia moderna está diante de um grande dilema político: gerir uma impaciente sociedade poliédrica, com reivindicações múltiplas e frenéticas, tendo, para tanto, recursos públicos absolutamente limitados.

Não é fácil, mas possível. Como bem aponta a inteligência superior de Paul Collier em seu brilhante The Future of Capitalism, as “narrativas constroem gradualmente um sistema de crenças”. A corrupta narrativa estatista está morta, tendo um festivo prisioneiro em Curitiba. A lição da recente história brasileira é categórica: quanto mais largo o Estado, maior a corrupção e as ineficiências públicas. Hora, portanto, de mudar a ordem dos acontecimentos. Nosso país merece um novo e melhor enredo político que toque o coração das pessoas, resgatando a confiança e a credibilidade do ideal democrático.

Eis, aí, o desafio e a oportunidade de Jair Messias Bolsonaro.

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado, vice-presidente da Federasul/RS e conselheiro do Instituto Millenium.