O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Nos dias que correm, o presidente Bolsonaro só confirma seu estilo de governo: ação política de confrontação, governar elegendo inimigos, internos ou externos, próximos ou distantes, reais ou imaginários. Os inimigos foram e são: a velha política, Rodrigo Maia, o STF, as ciências sociais, os jornalistas, os estudantes e professores e, mais atualmente, por incrível que pareça, o meio ambiente e até Sergio Moro, seu ministro da Justiça.

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Se, geralmente, para o cidadão comum aquilo que se fala ou nossas ações trazem consequências, imagine-se para o político que ocupa o cargo mais proeminente da República: a Presidência do país. No limite, as falas – discursos, lives nas redes sociais e suas entrevistas – de Bolsonaro têm corroborado uma proposta de manter constantemente as relações com os atores políticos, com a sociedade, com as instituições e até nas relações internacionais em estado de tensão, com riscos de esgarçamento do tecido e dos valores democráticos e republicanos.

Ao que tudo indica, esse é e será o estilo presidencial: governar por meio do confronto

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No que tange ao meio ambiente, os dados são de um aumento no desmatamento e das queimadas na região amazônica. Fatos oriundos de estudos e divulgados pelo Inpe tiveram, como consequência, não a devida atenção e equacionamento do problema, mas a demissão do presidente do referido órgão, acusado de divulgar dados inverídicos ou de estar a serviço de alguma ONG. Aliás, ainda segundo o presidente, as queimadas poderiam até ter sido obra das organizações não governamentais que estariam em guerra contra o governo. Até o momento, não bastasse o desgaste interno, no plano internacional, Alemanha, Noruega e Canadá se posicionaram de forma crítica ao governo brasileiro. A Finlândia ameaça propor o banimento da compra de carne brasileira na União Europeia. Bolsonaro e seu núcleo militar reagiram, em parte, aguçando o espírito patriótico e de nossa soberania em relação à Amazônia, e o presidente também não gostou da reação francesa, em que Emmanuel Macron divulgou foto descontextualizada. Pois é: quem com fake news fere com fake news tem sido ferido.

Já não bastasse o volume de problemas por causa do meio ambiente, Bolsonaro volta à baila para diminuir e desautorizar seu ministro da Justiça. Moro iniciou o governo com, segundo afirmou-se, carta branca para tomar suas decisões. Ao que parece, nestes oito meses, Moro passou da condição de "super" para a de "micro" ministro. O pacote anticrime não avançou, até porque há a reforma da Previdência, entendida como estrategicamente mais importante. E, sempre que possível, Bolsonaro vem a público para deixar claro que quem efetivamente manda é ele, e não Moro. Pegou muito, muitíssimo mal, a intenção de intervir na Polícia Federal e em outros órgãos públicos por parte do presidente. Há quem questione se, no caso de Moro, há resiliência ou subserviência por parte do ministro que, politicamente, sofre evidente humilhação, como também sofreram Bebiano e Santos Cruz, ambos defenestrados do governo. É certo que as mensagens divulgadas pelo The Intercept enfraqueceram Moro no revolto mar da política, mas, em vez de lhe jogar uma corda ou boia, Bolsonaro lança-lhe bigornas.

Ao que tudo indica, esse é e será o estilo presidencial: governar por meio do confronto, mantendo a chama bolsonarista eleitoral acesa, buscando, também, estabilizar esse apoio de cerca de 30 % que apresenta nas últimas pesquisas. Quer, assim, firmar-se quase que como um Lula da direita, já que o petista também manteve um eleitorado próximo deste porcentual. Claro está que deseja a reeleição em 2022 e que fará de tudo para manter o clima eleitoral beligerante ativo, eliminando aqueles que, como Moro, poderão lhe ameaçar no futuro próximo. Veremos se essa estratégia no plano interno e nas relações internacionais será de êxito ou equivocada.

Rodrigo Augusto Prando é cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.