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Bons propósitos para uma convivência feliz

(Foto: Alisa Dyson/Pixabay)

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Coabitar é uma das artes mais difíceis. Jovens casais ou pessoas no início de um relacionamento afetivo e de convivência geralmente passam por fases de êxtases e alegrias que se alternam com desafios, conflitos e frustrações. É preciso lembrar aquilo que a poetisa goiana Cora Coralina muito bem declama com seu lirismo e longa experiência de vida: “Quis um dia ser jardineira de um coração. Nasceram rosas, mas nos espinhos me feri”.

De início a paixão, que por ser efêmera não basta para sustentar uma relação de longa convivência. Os desacordos começam a fazer parte do cotidiano do relacionamento – afinal são dois seres oriundos de históricos familiar e individual diferentes, cada com sua própria escala de valores e suas crenças. A boa comunicação e a força dos argumentos deverão prevalecer sempre. Afinal, o que compromete uma relação adulta não são as discordâncias, mas a falta de diálogo e a indiferença, as maiores destruidoras de afetos. A pior solidão é aquela de dois sobre o mesmo teto, e decorre da indiferença, da rotina em que um não se importa com o outro, da ausência de manifestação de sedução e libido.

Manter a fé no Deus Criador, a Inteligência Infinita. Crer na força das preces, das boas energias e do pensamento positivo, que promovem curas e nos confortam nas horas de sofrimento.

E quais os três principais erros que podem levar a relação a um desfecho melancólico com o fim da convivência harmoniosa? O primeiro é focar nas falhas do outro, em vez das qualidades. Atacar os pontos fracos pode ser tentador e poderoso, mas deixa cicatrizes emocionais nem sempre fáceis de superar. O segundo é querer que o outro mude. Algumas mudanças devem, sim, ocorrer e os ajustes são necessários, mas como fruto do convencimento interno e no tempo de cada um. Por fim, o terceiro erro é guardar mágoas, não praticar a difícil arte de perdoar. Mágoa é deletéria, uma carga tóxica que infelicita, desencadeia doenças e corrói o relacionamento.

Mas nem sempre é tão trivial entender que sai sempre ganhando quem sabe amar, dialogar e perdoar. Uma relação afetiva será vitoriosa na medida do diálogo, da tolerância e das concessões mútuas, pois, quem se impõe (ou tenta se impor), subjuga e converte o(a) companheiro(a) num oponente. A tolerância no convívio não é fraqueza, mas sim virtude – desde que praticada por ambos. Se um entra em crise, o outro deve se conter, manter o equilíbrio, pois muito danoso para a relação é quando simultaneamente os dois “surtam”. Neste mister, muito bem corroboram as palavras de Shakespeare: “A tragédia começa quando os dois acham que estão certos”.

Ademais, é fundamental para a relação o propósito de crescer mutuamente, de se moldar para favorecer uma convivência feliz e saudável com o outro. Estabelecer alguns projetos de vida em conjunto é importantíssimo inclusive para um bom ajuste nas finanças familiares. É mais feliz o casal que gradualmente desenvolve valores morais e materiais em comum, um indicativo de que se apoiarão como bons companheiros na velhice e, se a opção for terem filhos, transmitirão ensinamentos e modelos mais uniformes e sinérgicos. Na vida, as negligências são até admissíveis, menos no papel de pais, pois nada causa mais frustração e tristeza que filhos desencaminhados.

E o esforço para construir um bom relacionamento não deve ser impeditivo ao cultivo e à manutenção das boas amizades. Nesse sentido, peço licença para contar uma pequena história. Na véspera do casamento do filho, o velho pai o chama e diz: ”Amanhã você vai se casar, vai ter uma companheira, depois filhos que passarão a ser a prioridade em sua vida. Mais tarde, seus filhos farão exatamente o que você está fazendo comigo e que eu fiz com o seu avô. E o que será de você? Por isso, nunca se distancie dos amigos, dedique tempo a eles. É com eles que você vai rememorar boas histórias, dar gargalhadas gostosas, falar de política e futebol, contar seus segredos, frustrações, angústias e ingratidões”. Conselhos sábios de um velho pai.

Por fim, mas não menos importante, deve-se buscar a trilha da espiritualização. Manter a fé no Deus Criador, a Inteligência Infinita. Crer na força das preces, das boas energias e do pensamento positivo, que promovem curas e nos confortam nas horas de sofrimento. Manter a prática da caridade cristã, voluntária e sincera. Sobre isso, Madre Tereza de Calcutá tem autoridade para nos ensinar. “As mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam”, dizia ela. São gestos que levam dignidade e autoestima, e o retorno é o prazer de ser útil, além de ser uma terapia gratificante. Belas e oportunas também são as palavras de Dalai Lama: “A ajuda aos semelhantes nos traz sorte, amigos e alegria. Sem ajuda aos semelhantes acabaremos imensamente solitários”.

Em suma, são normas de convivência bastante conhecidas, conquanto difíceis de praticar, pois exigem persistentes esforços que se tornam compensadores à medida que gradualmente se colhem os frutos de um relacionamento mais aprazível e duradouro. E, talvez, o fundamento maior para embasar tudo isso esteja em cada um ter dentro de si um bom equilíbrio entre os sentimentos e a razão, pois é a essência de uma vida de contentamento e paz interior, sem os quais é impossível ter relacionamentos saudáveis. Temos dentro de nós dois cães que se litigam todos os dias, um representa a emoção e o outro, a razão. Qual dos dois vence a briga? Aquele ao qual damos mais comida, por isso os dois precisam ser alimentados com porções iguais.

Jacir J. Venturi foi professor e diretor de escolas públicas e privadas. É cidadão honorário de Curitiba, autor de 4 livros, pai de 3 filhos e avô de 3 netos.

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