O filósofo grego Heráclito disse, certa vez, que a única constante é a mudança. A citação é atualmente pertinente quando se observa o Reino Unido e sua história de democracia, pois os britânicos foram recentemente às urnas e votaram em um novo governo. Nas eleições gerais realizadas em 12 de dezembro, a primeira realizada naquele mês desde 1923, o primeiro-ministro Boris Johnson o Partido Conservador conquistaram a maioria na Câmara dos Comuns, com a eleição de 356 parlamentares.
Não é surpresa para o leitor que os países de nossas Ilhas Britânicas tenham longas histórias. A Inglaterra é um país unido há mais de mil anos e o Reino Unido – a união da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte – tem mais de 300 anos de história conjunta. E também temos uma longa tradição de governo representativo e liberdade política. O moderno Parlamento do Reino Unido pode traçar suas origens desde as organizações dos Witan e Moot do governo anglo-saxão dos séculos 8.º a 11. Isso evoluiu e se desenvolveu lentamente, e nem sempre linearmente, durante os mil anos que se seguiram, incorporando a Carta Magna de 1215; o “Parlamento Modelo” de 1295, em que o rei Eduardo I convocou dois cavaleiros de cada condado, dois representantes de cada burgo e dois cidadãos de cada cidade; e a Revolução Gloriosa de 1688, que inaugurou uma monarquia constitucional.
Avançando rapidamente para o presente, em 19 de dezembro assistimos à cerimônia de abertura do Parlamento, que marca o início do ano parlamentar, oferecendo uma oportunidade para o novo governo destacar suas prioridades para os próximos meses, articuladas pela rainha, na qualidade de chefe de Estado. O discurso de Elizabeth II focou os temas de saúde, ordem pública e investimento em infraestrutura e inovação. Não surpreende, contudo, que o tema principal tenha sido o Brexit, a saída formal do Reino Unido da União Europeia, que começará no início deste ano com um “Projeto de Lei do Acordo de Saída” formal (a segunda leitura foi aprovada no Parlamento em 20 de dezembro) antes de um período de transição ao longo de 2020.
Neste cenário pós-Brexit, o Brasil será cada vez mais um importante parceiro estratégico para o governo britânico
O Brexit nos fornece uma plataforma para avançar com um novo futuro global para o Reino Unido, enquanto o país continua a desfrutar de fortes e positivas relações comerciais, culturais e de segurança com nossos parceiros e aliados no continente europeu. É, nas palavras do primeiro-ministro, uma “enorme oportunidade econômica”, pela qual podemos regular melhor, nos relançar em um mundo cada vez mais globalizado e assumir nosso lugar como um forte e independente ativista global pelo livre comércio. Neste cenário pós-Brexit, o Brasil será cada vez mais um importante parceiro estratégico para o governo britânico, aproveitando o sucesso significativo dos últimos anos e uma relação de séculos.
Foi o Reino Unido que ajudou a mediar a independência brasileira de Portugal em 1822, e em 2026 nossos povos celebrarão 200 anos de relações diplomáticas oficiais. O primeiro jornal brasileiro também foi impresso em Londres. Além disso, há cerca de 90 anos, uma empresa britânica fundou mais de 60 cidades no norte do Paraná, incluindo Londrina. Curitiba até chegou ter um prefeito inglês na década de 1920. O Memorial Inglês, recém-inaugurado no bairro curitibano do Batel, destaca e homenageia esses laços históricos. Nossa história conjunta é algo de que podemos nos orgulhar.
Esta parceria continua a se fortalecer. O Fundo de Prosperidade, liderado pela Embaixada Britânica, apoiou mais de 100 projetos socioeconômicos no Brasil nos últimos anos. Também foi anunciado um investimento adicional de 100 milhões de libras para trabalhar com o Brasil em seus esforços de desenvolvimento econômico, infraestrutura sustentável, finanças verdes e redução da pobreza. Essa parceria expandirá o potencial do comércio global, catalisará investimentos e aumentará as oportunidades de negócios internacionais no Brasil. Isso inclui trabalhar com o Brasil para desenvolver seu setor e instituições de finanças verdes usando o modelo do Green Investment Bank do Reino Unido; ajudando a estimular a inovação e o investimento em tecnologias inteligentes para infraestrutura urbana; e apoiando a ambição do Brasil de se juntar à OCDE.
Os vínculos comerciais entre o Reino Unido e o Brasil já são substanciais e o investimento do Reino Unido no Brasil está aqui no longo prazo. O Reino Unido é o quinto maior investidor estrangeiro principal no país e o comércio combinado entre os dois países é estimado em cerca de 6 bilhões de libras, número que cresceu significativamente nos últimos anos. No nível estadual, o comércio industrial entre o Reino Unido e o Paraná totalizou cerca de US$ 1 bilhão desde 2017, ou cerca de 8% do total do fluxo Brasil-Reino Unido em bens industriais durante esse período. A UK Export Finance, agência de exportação do governo britânico, dobrou recentemente seu apoio disponível ao comércio com o Brasil. Atualmente, estão disponíveis até 3 bilhões de libras em garantias para fomentar negocio e investimento bilateral.
Gostaríamos de ir além. Há 100 anos, o Reino Unido era o maior parceiro comercial do Brasil e continuamos como o maior investidor internacional até a década de 1930. Temos muito o que fazer, mas o futuro é brilhante para as relações Brasil-Reino Unido em negócios, inovação e cultura. O Brexit fornece um perfeito driver adicional para fortalecer esses laços. Parafraseando Heráclito, essa é a mudança constante que queremos ver.
Adam Paul Patterson, formado em Política e pós-graduado em Economia, Investimentos e Finanças, é cônsul honorário do Reino Unido no Paraná.
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