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Brasil deveria ser protagonista no empreendedorismo verde

(Foto: Unsplash)

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Quando se pensa em inovação e tecnologia nos negócios e no cotidiano, normalmente vem à mente as startups. Elas criam inovações para as mais diversas áreas, tais como transporte, alimentação, serviços e, principalmente, finanças. Existe uma área, no entanto, que ainda está em segundo plano entre os empreendedores e investidores: a do meio ambiente, o chamado empreendedorismo verde.

Pode parecer curioso que um país com tanto potencial, e que deveria ser um exemplo, ainda apresente um déficit em relação ao empreendedorismo verde, também batizadas de “cleantechs”. Mas os números comprovam isso. De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), existiam no Brasil, em 2021, 177 startups verdes ativas. Já as fintechs brasileiras são 1.289, segundo a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). No ano passado, dos US$ 9,4 bilhões investidos em startups brasileiras, 40% foram destinados às fintechs.

Deveríamos estar na vanguarda da solução dos problemas climáticos e ambientais do mundo e do empreendedorismo verde. Por que não estamos?

Como economista, entendo o potencial destas empresas no país, que possui uma grande população desbancarizada (38,5% da população adulta, de acordo com dados da Brink’s e da Fundação Dom Cabral). Porém, desejo alertar para a importância da questão do clima.

A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que 5 bilhões de pessoas no mundo não terão acesso à água potável até 2050. É necessário que a produção de alimentos cresça 70% até 2050, para acompanhar o crescimento da população, que deve chegar a 9,6 bilhões de pessoas. O Brasil possui 12% das reservas de água doce do planeta, ou 53% dos recursos hídricos da América do Sul. Isso sem falar da importância dos biomas brasileiros (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa, Pantanal e Bioma Marinho). Deveríamos estar na vanguarda da solução dos problemas climáticos e ambientais do mundo e do empreendedorismo verde. Por que não estamos?

Pude notar a olhos vivos o que está acontecendo. Sou fazendeiro, plantamos laranja, eucalipto e seringueira na fazenda. Há 30 anos era possível plantar laranja e esperar a chuva chegar. Hoje, sem irrigação a laranja não tem produção. Minha família possui uma fazenda na cidade de Colina, no interior de São Paulo, que está localizada entre dois rios. Eles diminuíram (e muito) de tamanho. Para se ter noção, um deles tinha cinco metros de largura. Hoje tem apenas um metro. Era profundo, hoje é raso. Eu já vinha me questionando e, agora que saí do mercado financeiro, decidi me dedicar a isso. Mas nem todos fazem este questionamento. Infelizmente, muitos não perceberam a transformação gradual e acreditam que seja apenas um ciclo.

Eu estou fazendo a minha parte, investindo no reflorestamento da propriedade. Já foram quatro alqueires, há muito mais por vir. Estou investindo em negócios para o clima, ajudando empreendedores que tenham algo a contribuir para o planeta. Mas creio que boa parte do problema ainda resida na falta de informação.

Há 20 anos, ninguém falava de finanças e investimentos. Encontrei o estranhamento de muitos por desejar popularizar estes temas. Quem desejava investir precisava recorrer a amigos, familiares e gerentes bancários para ter informação. Hoje não precisa mais ser assim. Basta fazer uma busca na internet para encontrar cursos de finanças, vídeos explicativos dos mais diferentes tipos de investimentos.

Agora trabalho para que o mesmo aconteça com a educação verde. É preciso virar a chave, disseminar as informações. Não dá mais para o debate permanecer restrito a alguns especialistas e acadêmicos. A população em geral precisa ser envolvida na conversa. A linguagem deve ser simples, para que todos entendam o que está acontecendo e o que estará por vir, se nada for feito. O assunto tem que estar na mesa de café da manhã, no almoço de domingo, no bate-papo entre amigos. Quem sabe assim teremos mais empreendedores e investidores de startups verdes, lutando pelo clima, pelo planeta, por nós.

Raymundo Magliano Neto é cofundador e CIO da Ateha e da Expo Money. Formado em Economia pela USP, possui MBA em Finanças pelo IBMEC e em Relações com Investidores pela FIPECAFI.

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