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Brasil e Argentina: o terreno acidentado da moeda comum

BNDES empréstimos Lula
Lula na Argentina ao lado do presidente Alberto Fernández. (Foto: Enrique Garcia Medina/EFE)

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O sonho de criar uma moeda comum para circular nos países da América Latina ou só na América do Sul, pode até ser sonhado. Mas nenhum de nós – nem mesmo os mais jovens – tem expectativa de vida suficiente para vê-lo concretizado.

Embora constituam um bloco geográfico e tenham  alguns interesses comuns, as nações da área são muito diferentes entre si desde. Nós fomos colonizados pelos portugueses, enquanto os demais pelos espanhóis (dai a diferença do idioma e costumes). O grande impeditivo à moeda única, no entanto, encontra-se no estágio da economia de cada um dos supostos parceiros.

A sensação que nos ocorre é de que o presidente Lula se apressa para terminar a carreira com o prestigio em alta.

Brasil e Argentina – que lideram as especulações de moeda comum, produzidas na esteira da visita do presidente Lula a Buenos Aires – são, seguramente, os dois principais e mais parecidos entre os países da América do Sul. Mas, mesmo assim, seria impossível traçar uma política econômico e monetária conjunta. O Brasil fechou 2022 com inflação anual de 5.79% e a Argentina viu o poder de compra de sua moeda cair 94,8% no mesmo período. Como se poderia acomodar isso dentro de uma mesma estrutura? Ninguém sabe.

Se fosse fácil administrar conjuntamente os diferentes interesses, o Mercosul não seguiria patinando. Criado em 1991 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o organismo não se firma justamente pela diversidade de objetivos de seus membros. Agora mesmo, o Uruguai, insatisfeito com o bloco, abre negociações econômicas com a China, sob protesto dos parceiros.

Cita-se a União Européia e o euro (que absorveu as moedas dos 28 países-membros daquela comunidade) como exemplos a serem seguidos. Não se diz, no entanto, que a formação do bloco dos países europeus começou a ser preparada em 1944 e só se concretizou em 1992. A criação do euro, lançado em 1º de janeiro de 1999, demandou 10 anos de esforços e tratativas. E mesmo com tudo isso, o Reino Unido deixou a comunidade.

A sensação que nos ocorre é de que – depois de definir ser este o seu último mandato – o presidente Lula se apressa para terminar a carreira com o prestigio em alta e, por isso, busca conquistar a liderança perante os vizinhos e parceiros ideológicos. Auxiliares dizem ser seu propósito finalizar a jornada da mesma forma que fez Nelson Mandela, que depois de tantos revezes (esteve preso por quase 30 anos) governou e mudou a realidade da África do Sul.

Parece, porém, que o brasileiro corre o risco de caminhar rumo a um terreno acidentado com essa moeda comum. Como maior economia do continente, se quiser liderar, o Brasil terá de investir (emprestando ou até doando seus recursos) para resolver os problemas dos vizinhos pobres. A promessa de financiar pelo BNDES o gasoduto da Argentina é exemplo disso – algo que já deu problema em um passado não muito distante.

Se, na impossibilidade de circular livremente, a moeda pretendida for restrita aos negócios entre os países parceiros, não passará de um grande livro-caixa que poderá abrir a porta para incontáveis problemas e gerar  desconfianças. Melhor será continuar negociando em dólar, sem termos de nos preocupar com a administração da moeda.

Estamos em uma situação análoga à do mendigo da piada que chegou ao banco e disse que queria abrir uma conta-conjunta e, ao ser perguntado com quem faria a parceria financeira, respondeu: “Com alguém que tenha muito dinheiro”. O Brasil, se embarcar nesse projeto de liderança, será esse parceiro rico diante dos outros.

Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar e dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (ASPOMIL).

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