A cerimônia que finaliza as olimpíadas em Paris acontecerá no domingo, dia 11 de agosto. Enquanto escrevo este artigo, o Brasil está na 18ª posição com 14 medalhas, duas de ouro, cinco de prata e sete de bronze. Mas isso é bom ou ruim?
A primeira forma de avaliar é fazer uma comparação com as Olimpíadas de Tóquio de 2020, onde o Brasil conquistou, no total, 21 medalhas, sendo sete de ouro, seis de prata e oito de bronze. Se até domingo o número for menor, significa que houve uma piora.
Poderíamos também olhar o tamanho da população do Brasil, a quinta maior do mundo, e esperar ao menos um número correspondente no ranking. O racional é que um país com mais pessoas tenha maiores chances de ter talentos no esporte, comparado com países pequenos. Porém, uma análise estatística mostra que esta lógica não prevalece, pois o tamanho da população é um mau preditor do número de medalhas olímpicas.
Este já não é o caso do PIB. Me diga o produto interno bruto de um país e, com quase certeza, poderei dizer quantas medalhas ele irá conquistar. Dependendo de como esse cálculo é feito, os dados do Brasil estão corretos, uma vez que estamos entre a 11ª e a 16ª maior economia do mundo e com um número de medalhas entre a 13ª e 18ª posição.
Seguindo uma lógica simplista, poderíamos dizer que, para ter mais medalhas, precisamos aumentar o crescimento do PIB. Um país mais rico teria mais orçamento para o esporte, como também mais doações, ajuda de parentes e amigos, e infraestrutura para treino.
Porém, acredito que essa não seja a justificativa pelo número de medalhas; a causa é mais profunda. O número de medalhas e o crescimento do PIB têm algo em comum: a cultura!
Então, o que é preciso para criar uma geração de campeões que coloquem o Brasil entre os primeiros cinco países com mais medalhas nos próximos 24 anos? Meritocracia.
Tudo começa colocando uma meta desafiadora e perseguindo-a. Ganhar medalhas é sobre vencer, e apenas uma cultura meritocrática cria este tipo de pessoas. Esse é o conceito que explica porque EUA e China estão entre os melhores, os dois países com a maior cultura meritocrática do mundo.
Vencer é resultado de disciplina, resiliência, foco, paixão, preparo físico, força mental, pensamento estratégico, desejo de competição, consistência, ética, trabalho em equipe, saber perder e aprender com os erros - as mesmas características que fazem um país enriquecer. O esporte e a economia têm atributos culturais comuns.
Portanto, não creio que o caminho seja investimento em esporte ou programas de formação. Estas são as consequências das políticas corretas, mas não o objetivo primário. Uma série de estudos mostra a relação entre o sucesso profissional e o envolvimento no esporte.
Um bom profissional, assim como um bom esportista, precisa saber liderar, gerir bem o seu tempo, se adaptar, dormir e alimentar-se bem, aprender a se concentrar, entender o objetivo e as regras do jogo.
Uma pesquisa da E&Y e ESPN-W indica que 94% de mulheres executivas participaram de esportes em algum momento de suas vidas, e 52% praticaram esportes no nível universitário. Pesquisas publicadas no Journal of Leadership & Organizational Studies descobriram que ex-atletas tendem a ter pontuações mais altas em habilidades de liderança e são frequentemente super-representados em cargos executivos.
Para isso, precisamos de escolas e famílias que promovam esses valores, precisamos implantar esportes competitivos em escolas, universidades e bairros, engajar executivos e ex-atletas a conversarem com crianças, voltar a premiar apenas quem vence, e não todos que participam. Sim, muitas crianças ficarão tristes, mas perder é parte da criação de resiliência, e saber no que você é bom faz parte do processo de amadurecimento para adultos eficazes.
Precisamos implantar competição em todas as áreas como inovação, matemática, história, ciência, literatura, artes, entre muitas outras categorias. Bem como incentivar apoio da iniciativa privada, sociedade civil e governos, mídia e meios de comunicação, família e comunidade, apoio psicológico e mental, nutricionistas, e por fim treinadores (coaches), até que a competição vire parte do DNA brasileiro.
Tornar-se um dos países que mais recebe medalhas não é sobre economia, e nem sobre esporte, mas sobre criar uma nação na qual todos podem se orgulhar - antes, durante e depois de qualquer competição.
Daniel R. Schnaider é economista e especialista em inovação e IA para cadeia de suprimentos.
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