Li em algum lugar que se computarmos o valor dos passes dos jogadores, a seleção brasileira vale mais ou menos 450 milhões de dólares. Os atletas estão todos ricos ou no mínimo bem resolvidos financeiramente, a CBF nada em dinheiro de patrocínios e rendas de jogos amistosos. A Copa do Mundo se transformou no maior evento esportivo mundial, superando mesmo em popularidade as Olimpíadas. Estima-se que quase 2 bilhões de espectadores verão o jogo final, um número que faz salivar as empresas multinacionais que transformaram o futebol em um negócio de dezenas de bilhões de dólares anualmente. A sina dos Estados Unidos, que dominam o esporte olímpico, é de cumprir um papel secundário no futebol e como esse papel de coadjuvante não se encaixa muito facilmente no ego norte-americano, eles prometem repetir no esporte masculino o sucesso que tiveram no feminino e se capacitar para em 10, 15 anos ganhar uma Copa do Mundo. Mais 200 milhões de espectadores se somarão, alcançando quase um terço da população mundial.

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Enquanto isso, o futebol que gerou toda essa prosperidade para os atletas e a confederação brasileira e é um dos principais responsáveis pela ascensão do esporte no mundo à categoria de megaespetáculo, nada em dívidas e está virtualmente falido.

Culpa de quem? De uma estrutura clubística e organizativa que mistura doses cavalares de amadorismo com doses industriais de esperteza. Amadorismo que se revela na montagem dos calendários que exaurem os atletas, submetendo-os a uma maratona de jogos e de viagens absurdas. Ou ainda na precariedade dos esforços de marketing dos clubes, levando a um resultado espantoso: nos Estados Unidos, onde o futebol é um esporte marginal em termos de prestígio popular, a média de espectadores por jogo é quatro vezes maior que a média dos campeonatos brasileiros. Amadorismo na organização dos campeonatos nacionais e regionais que fazem com que tenhamos em algumas épocas do ano três ou quatro certames simultaneamente.

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A esperteza está presente em todos os aspectos da vida dos clubes: nas negociações nebulosas que envolvem a compra e venda de jogadores, na opacidade da contabilidade das sociedades esportivas, na manipulação de rendas e de resultados por parte dos dirigentes, na manutenção de padrões de conduta simplesmente criminosos que uma CPI do futebol desvendou em detalhes apenas para ser enviada para um arquivo empoeirado do Congresso enquanto que as mesmas figuras de sempre continuam a gerir o futebol brasileiro com desenvoltura e despreocupação.

Agora, imagine-se se o futebol brasileiro tivesse uma fração por pequena que fosse da organização esportiva americana. O esporte americano tem, para começar, uma espécie de cadeia de produção: os atletas começam nos campeonatos escolares de nível médio (high schools) , sendo que os mais talentosos evoluem para o esporte universitário de onde também os mais talentosos migrarão para o esporte profissional. Os salários – com exceção de um pequeno punhado de superestrelas seguem uma espécie de tabela para manter os clubes solventes e lucrativos. Os clubes não competem entre si nos mesmos mercados: cada liga só tem um time em cada grande cidade, por tipo de esporte, para evitar a diluição de receitas: os angelenos só têm um time de basebol; os Dodgers, um de basquete; os Lakers e um de hockey, os Kings. A poderosa liga de futebol NFL não tem um time de futebol americano em Los Angeles há mais de dez anos porque os seus donos – que são os donos dos times – exigem que a cidade tenha um estádio grande e moderno suficiente para garantir lucratividade. Os clubes não competem entre si também no calendário: o basquete e o hockey são esportes de inverno, o futebol americano e o baseball, esportes de verão. Não há hipótese de que haja um campeonato de qualquer dessas modalidades fora dos calendários estabelecidos. Assim, todo o dinheiro do torcedor é canalizado para um só clube.

Enquanto isso, o melhor futebol do mundo agoniza, anêmico, sem público nos estádios, sem conseguir reter seus melhores talentos, jogando por migalhas mundo afora. Torcida existe, dinheiro existe, talento existe de sobra, falta organização e um mínimo de profissionalismo. Será que falta mesmo profissionalismo? É mais provável que os dirigentes sejam profissionais em outro tipo de jogada e que os ingênuos e amadores sejamos nós.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Mestrado em Organizações da FAE Business School.

P.S. – Estou doido que a Copa do Mundo acabe. Camisa da Copa, bola da Copa, bandeira da Copa e figurinhas da Copa para meu neto Leonardo, R$ 250,00. Livrar-me da chatice patriótica do Galvão Bueno e das superstições do Zagalo... não tem preço.

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