Um possível conflito armado entre Venezuela e Guiana, na disputa pelo território de Essequibo, que engloba 70% da Guiana, acende um sinal de alerta no Brasil, que faz fronteiras com os dois países. A disputa entre Venezuela e Guiana já dura mais de um século.
As relações do Brasil com a Guiana são boas, mas não tão relevantes como as que mantemos com a Venezuela, seja em termos de volume de comércio. É de se lembrar que, no passado, o Brasil foi a favor da fixação de fronteiras entre ambos os países por meio de acordos para que as fronteiras atuais fossem mantidas
Caso haja uma escalada no conflito e a situação se transforme em uma guerra, o Brasil deve jogar seu peso político para dissuadir Maduro de chegar a essa situação. Politicamente seria interessante o Brasil ajudar com um esforço internacional para proteger a Guiana, já que a situação de conflito tornaria aquela área mais propensa ao tráfico de drogas.
Não há um motivo real para o Brasil entrar na guerra, exceto para participar de um esforço internacional para repelir a eventual aventura de Maduro. O interesse deste é duplo: apropriar-se de reservas de petróleo e unir a população ao seu redor, já que Maduro é altamente impopular e, teoricamente, haverá eleições competitivas no próximo ano, como parte de um acordo para levantar as sanções econômicas da Venezuela.
Embora o Brasil tenha uma larga fronteira com a Guiana, não deve haver uma migração massiva de guianenses, pela dificuldade em se cruzar a floresta amazônica. O maior problema é que a ligação rodoviária entre a Venezuela e a Guiana passa pelo Brasil.
Ante as relações pessoais entre Maduro e Lula, bem como ante a fraqueza do nosso efetivo militar na região, ele pode querer cruzar nosso território para atacar a Guiana. E isso é motivo de atenção redobrada do governo brasileiro porque essa pode ser uma péssima sinalização do ponto de vista militar e pode aumentar o uso ilícito das fronteiras brasileiras pelo tráfico internacional ante a certeza da impunidade.
Emanuel Pessoa é advogado especialista em Direito Internacional, Governança Corporativa, Direito Societário, Contratos e Disputas Estratégicas, mestre em Direito pela Harvard Law School, doutor em Direito Econômico pela USP, além de palestrante e comentarista.