Foi um gesto destemido do ministro Paulo Renato inscrever o Brasil no exame Pisa, em 2000. O então presidente, Fernando Henrique, teria questionado: "E se formos o último colocado?" O ministro argumentou que o Pisa é um dos instrumentos de maior credibilidade em avaliação educacional do mundo. Foram 32 países participantes do Pisa naquele ano. Bingo: nos posicionamos em último: 56% dos estudantes de 15 anos avaliados em Matemática, Leitura e Ciências tiveram um desempenho de "quase analfabetos funcionais", a boa distância do penúltimo colocado (o México, com 44%).
O Pisa 2012 agora com 65 países avaliados e cujo resultado foi divulgado poucos dias atrás, em um relatório de 32 páginas mantém o Brasil entre os últimos: 57.º em Matemática; 54.º em Ciências; 58.º em Leitura, atrás do Chile, Uruguai, México, Turquia, Cazaquistão, Costa Rica e Emirados Árabes, entre outros. Essa prova é aplicada a cada três anos e o Pisa 2012 demonstrou que o Brasil avançou na média das três áreas em 9,2% no comparativo com o Pisa 2000, estacionou em relação ao Pisa 2009 em Leitura e Ciências, e incrementou 1,3% em Matemática.
Com esse pífio resultado, a meta estabelecida pelo governo brasileiro de se igualar à média dos países ricos (da OCDE) prevista para 2022 se estende para 2030. A nossa velocidade de melhoria do ensino é levemente crescente, mas é indispensável que se aumente a sua celeridade. Cada 40 pontos do Pisa equivalem a um ano de escola. A partir dessa premissa, o nosso gap em relação à média dos países ricos é de 2,4 anos e, em relação ao 1.º colocado (Xangai), é de 4,7 anos. Para ser mais didático, um chinesinho de Xangai de 10,3 anos tem a mesma proficiência de um aluno brasileiro de 15 anos.
Em educação não há mágica. Elevar os gastos do setor não é suficiente, embora necessário para que os alunos permaneçam mais tempo na escola e para remunerar condignamente os nossos bons profissionais. Como já faltam recursos em outros setores, um salto dos atuais 5,8% para 10% do PIB para a educação pode ser trágico se mantivermos o atual statu quo de deficiências na gestão, de descontrole nos gastos, na falta de comprometimento dos pais. E, após 43 anos vivenciando intensamente o ecossistema educacional, em todos os níveis, permita-me um depoimento: reverencio profundamente cerca de dois terços dos nossos professores, pedagogos e gestores, mas o outro terço compromete profundamente um bom trabalho pedagógico pelo despreparo, pelo corporativismo e pelas ideologias.
Da lista dos 65 participantes do Pisa, os sete primeiros colocados são asiáticos. No entanto, quem ocupou as manchetes internacionais foi 17.° colocado: o Vietnã ficou próximo de Finlândia e Alemanha, e foi classificado como o país que tem menor custo por aluno. Reconhecidamente, os asiáticos têm em comum a cultura de valorização e respeito ao professor, e intensa participação e cobrança dos pais no rendimento escolar do filho e na qualidade do ensino.
O Brasil pontuou entre os últimos. Indignação manifesta das famílias ou da sociedade? Nenhuma ou quase nada. Agora, imaginemos o Brasil no embate com México, Croácia e Camarões, caso não se classificasse na primeira fase da Copa do Mundo de 2014 e se posicionasse entre os últimos. Tragédia nacional, com Felipão e jogadores empalados em praça pública. Cláudio Moura Castro se faz oportuno ao afirmar que, se a população brasileira fiscalizasse a educação com o mesmo fervor com que o faz em relação ao futebol, a educação teria avançado muito. Comunidade silenciosa perpetua o fracasso!
Jacir J. Venturi, professor e gestor escolar, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).
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