Esplanada dos Ministérios, em Brasília| Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil
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É clichê, mas é preciso dizer. Como aquele escritor britânico pressagiou, é hora de afirmar o caráter esmeraldino das folhas da relva. Portanto, diga-se com todas as letras: o Brasil é o país do futuro, sim. Mas esta afirmação é um oxímoro na medida em que toda nação, por sua própria natureza, tende inexoravelmente a um futuro. Toda nação orienta-se a um amanhã, ainda que por inércia. A questão importante é a seguinte: que futuro aguarda a um dia denominada Terra de Santa Cruz? Que destino a espera?

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Cada dia fica mais evidente que o Brasil permanecerá atado a um destino liliputiano na história da humanidade enquanto sua nação não se convencer da importância da formação humana de seus cidadãos. Entenda-se: não só formação intelectual. Diga-se claramente: formação humana! É preciso formar o intelecto, mas também é preciso educar a vontade. É necessário formar o intelecto, mas é urgente moldar os sentimentos. É preciso cultura para o brasileiro. Aliás, o Brasil não terá um amanhã decente enquanto a educação não for prioridade para a população: governantes e governados. Mas de nada adiantará aos governos desdobrarem-se em investimentos e políticas públicas de qualidade; de nada servirá as famílias finalmente entenderem o papel central da educação para suas crianças e para si mesmas; nada disso prosperará se os educadores não se esforçarem para realizar com excelência e afinco a tarefa para a qual se formaram e juraram trabalhar.

Pela educação, preparamos as crianças para tornarem-se homens e mulheres excelentes, a fim de que mudem o destino do país. Pela educação, nós as auxiliamos a crescer e transformar-se em homens e mulheres capazes de se sacrificarem pelo bem comum e pela justiça. Educando-as, pretendemos que se tornem homens e mulheres honrados, capazes de fazer o bem aos compatriotas, cidadãos como elas, de forma heroica, desinteressada e magnânima. Mas não é isso que nossas crianças estão vendo acontecer diante de seus olhos. Infelizmente, desinteresse, sacrifício, heroísmo, honra não são as características marcantes que os alunos veem quando olham para seus professores.

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O surto de Covid-19 tem revelado o verdadeiro rosto dos educadores do país. Profissionais covardes, com baixíssima capacidade de imolação, egoístas e autocentrados, incapazes de empatia com as crianças que, dizem com os lábios, amam e com as quais se preocupam. Preguiçosos e calculistas, fazem contas dos benefícios e se regozijam com seus salários, sem trabalho ou com bem pouco. Vingativos, culpam as crianças e suas famílias por resultados eleitorais legítimos, mas a eles desagradáveis, deixando clara sua antipatia pela democracia. Sem qualquer argumento razoável (pois as ciências médica e sociológica não sustentam suas práticas), fazem-se de vítimas, como se sua profissão fosse mais perigosa para o contágio da doença que a dos auxiliares de enfermagem, garis, policiais, pediatras, sorveteiros, porteiros, militares, dentistas, carteiros, motoristas, vendedores, padeiros, bombeiros, eletricistas, encanadores, entregadores, farmacêuticos, caixas de supermercado, atendentes, pipoqueiros, garçons, cozinheiros e toda uma miríade de profissionais que todos os dias deixam os seus lares para tornar a vida de outras pessoas (inclusive a dos educadores) menos árdua e mais segura. Afirmar, portanto, que o contato com crianças é arriscado para a saúde dos educadores, a despeito dos profissionais que todos os dias se sacrificam para facilitar suas vidas, revela a mesquinhez de sua visão de mundo, a pusilanimidade de suas personalidades, o grau de acovardamento de que estão marcados.

A essa altura, alguém dirá que este não é o retrato dos professores do país. Que este retrato é muito duro e não reflete a verdade. De fato, sempre há quem diga que é um pequeno grupo, este que silencia a maioria. Pois este argumento destaca ainda mais o caráter desta maioria silente, que nada faz contra a tal minoria (não sei se é tão minoria assim) preguiçosa e mal-intencionada, enquanto seus alunos perdem um ano letivo inteiro e adoecem sem o contato com seus amigos e – em muitos lugares do Brasil – sem o alimento do corpo oferecido também pela escola (muitas vezes, a única refeição completa do dia).

Não há dúvidas de que o aparelhamento dos sindicatos potencializa este panorama, mas ainda aqui os professores de escolas particulares deveriam tomar a iniciativa, desfiliando-se dos sindicatos, processando-os em conjunto, fazendo acordos com seus empregadores, enfim, sendo corajosos e benevolentes em favor das crianças, que tanto dizem amar. Como diria Sartre, acertadamente: “somos condenados a ser livres”. Os professores que discordam das orientações de seus sindicatos deveriam impor-lhes sanções, abrindo processos, rompendo as cadeias com essa classe política que são os sindicatos. Deveriam assumir a responsabilidade por suas escolhas e não se esconder covardemente sob um silêncio retumbante e maldoso. Afinal, são as crianças que dizem amar as vítimas desse absurdo em curso no Brasil.

Se a educação é o índice de aprimoramento de uma nação, o Brasil não terá um futuro decente enquanto permanecer refém de uma classe tão individualista como a dos educadores. Já passou da hora de novas instituições de ensino ocuparem o lugar de excelência educacional e humana, da qual se ressentem os cidadãos brasileiros e as famílias há tanto tempo. Urge o surgimento de educadores dispostos a se imolarem pela formação humana e espiritual de nossas crianças, plasmando um futuro diferente deste que se vê com nossos olhos. Tais educadores, tais instituições, precisam aparecer o quanto antes, para mudar o futuro do país. Tenho certeza de que serão muito bem aceitas e recebidas pela população brasileira.

Robson de Oliveira é escritor, professor de Filosofia na PUC-Rio, diretor do CTSmart e autor deEcce Homo: os vícios à luz dos afrescos de Giotto.

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