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A água é a base da biodiversidade, da produção agrícola e industrial e, acima de tudo, da geração de energia limpa. No entanto, a crescente variabilidade climática e a pressão sobre os recursos hídricos demandam soluções inovadoras para garantir o equilíbrio entre demanda energética e disponibilidade hídrica. Diante desse desafio, as usinas hidrelétricas reversíveis (UHRs) surgem como uma resposta eficiente e estratégica para aprimorar a gestão da água e a segurança energética.
Essas usinas funcionam como grandes “baterias naturais”, armazenando energia ao bombear água para um reservatório superior nos momentos de baixa demanda e liberando-a para geração de eletricidade nos períodos de maior necessidade.
A água e a energia estão intrinsecamente conectadas e é preciso uma gestão mais eficiente desse recurso vital, garantindo seu uso responsável para o presente e o futuro
A transição para uma matriz energética mais limpa e sustentável trouxe consigo um aumento expressivo de fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica. No Brasil, onde a hidreletricidade sempre foi a espinha dorsal da geração de energia, a crescente participação dessas novas fontes impõe um desafio: como garantir estabilidade ao sistema elétrico quando o sol ou o vento diminuem?
É nesse contexto que as usinas hidrelétricas reversíveis se destacam. Elas oferecem flexibilidade operacional, garantindo energia quando mais precisamos e evitando desperdícios quando a oferta supera a demanda. Além disso, desempenham um papel crucial na regulação dos fluxos hídricos, permitindo uma gestão mais eficiente da água em tempos de escassez ou excesso.
As UHRs já são uma realidade consolidada em países como China, Japão e Estados Unidos, e apresentam algumas vantagens significativas para o Brasil, como a possibilidade de realizar o armazenamento de energia em grande escala, uma vez que diferente de baterias convencionais, que têm vida útil limitada e alto custo de produção, as UHRs permitem armazenamento eficiente por décadas.
Além disso, também apresentam como vantagem a estabilidade e segurança energética, pois ao equilibrar oferta e a demanda, as usinas hidrelétricas reversíveis evitam oscilações bruscas de energia e aumentam a resiliência do sistema elétrico. Ao mesmo tempo, também possibilitam o uso inteligente da água, já que a partir do bombeamento reversível, otimizam o uso dos reservatórios, minimizando impactos ambientais e favorecendo múltiplos usos da água, como abastecimento humano, irrigação e navegação. Outro ponto que vale a pena ressaltar é o baixo impacto socioambiental, tendo em vista que as usinas de ciclo fechado, por exemplo, utilizam reservatórios artificiais independentes dos rios, reduzindo interferências ecológicas e facilitando o licenciamento ambiental.
Apesar de ser referência global em energia hidrelétrica, o Brasil ainda não explora o potencial das usinas reversíveis. Com mais de 100 GW de capacidade instalada de hidreletricidade, o país tem um ambiente ideal para implementar essa tecnologia, otimizando a infraestrutura já existente e ampliando a segurança hídrica e energética.
O caminho para essa transição exige uma modernização regulatória e incentivos para viabilizar investimentos nesse setor. O sucesso das UHRs em mercados internacionais mostra que é possível implementar modelos de remuneração que tornem os projetos financeiramente atrativos, garantindo o retorno para investidores e benefícios para a sociedade.
A água e a energia estão intrinsecamente conectadas e é preciso uma gestão mais eficiente desse recurso vital, garantindo seu uso responsável para o presente e o futuro. As usinas hidrelétricas reversíveis não são apenas uma solução para o setor elétrico, mas um caminho estratégico para um Brasil mais sustentável e resiliente.
Hans Poll é CEO da Voith Hydro América Latina.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



