Na linguagem estratégica do mundo globalizado, BRIC é o acróstico para Brasil-Rússia-Índia e China, as quatro potências emergentes do Século Vinte e Um. A China já emergiu, a Rússia e a Índia estão a caminho e mais próximas do que o Brasil, mas nós tambéem estamos na corrida. Que têm esses países de especial? Várias coisas importantes como território, recursos naturais, população, localização geográfica estratégica em função de diferentes mercados. E o que têm a China, a Rússia e a Índia que falta ao Brasil? Uma população com alto nível de escolaridade e instrução, sistemas educacionais de qualidade que formaram ao longo de algumas décadas centenas de milhares de doutores e mestres, especialistas, tecnólogos e cientistas, que representam a única matéria-prima essencial e estratégica para o desenvolvimento de um país nesta era do conhecimento que vivemos. E ainda uma infra-estrutura moderna de comunicações, portos, apoio logístico e tudo o mais que é necessário para suportar um esforço agressivo de desenvolvimento. China, Rússia e Índia estão investindo freneticamente para superar alguns gargalos importantes nessa área. E nós?
O binômio das preocupações brasileiras em termos de retomar uma trajetória decente de crescimento econômico é absolutamente evidente: educação e infra-estrutura econômica. Tudo o mais se seguirá, inclusive a melhoria dos serviços sociais de saúde, de habitação, transporte de massa etc. Não adianta tergiversar nem recorrer às habituais frases feitas do "distribuir o bolo à medida que ele vá ficando pronto" versus "fazer crescer o bolo antes de comê-lo". O nosso bolo está crescendo de maneira medíocre ano após ano, mal e porcamente compensando o crescimento populacional, o que mostra que a população não empobreceu mas também enriqueceu muito pouco em uma época em que a China e a Índia (os I e C do acróstico crescem a dez por cento ao ano) e a Rússia não chega tão longe mas também não decepciona com seus 7,1% em 2004 e 5,5% em 2005, o dobro do Brasil.
Nosso bolo está crescendo pouco porque estamos ficando sucateados em termos humanos e materiais. Em termos humanos porque a era do trabalho barato como ferramenta de desenvolvimento já passou e agora os processos industriais e a economia terciária e quaternária exigem níveis de qualificação que nosso sistema educacional é incapaz de prover. E materialmente porque enquanto os governos sucessivos fazem ginásticas para satisfazer os mercados financeiros, não nos sobra um centavo para investir em um programa de modernização infra-estrutural realmente ambicioso como necessitamos.
O fato lamentável é que o Brasil está envelhecendo e emburrecendo. Já comentei em artigo anterior a desertificação do setor público no que toca a existência de quadros humanos qualificados e tenho batido seguidamente na mesma tecla da nossa incapacidade de investir. Coloque a memória para funcionar, paciente leitor, e procure se lembrar de uma grande obra viária, energética, ou da modernização de um porto que esteja sendo construída? Procure de novo se lembrar, caro leitor, do nome dos arquitetos e engenheiros nacionais de grande reputação internacional? "Tirante" Oscar Niemeyer, que está gloriosamente beirando os cem anos, quais são nossas figuras na área da arquitetura internacional? Quem são os John Cotrim, Mário Bhering e Parigot de Souza no engineering do setor energético de nossos dias? Para onde migrou a engenharia de grande porte do Brasil, para onde foram as grandes empresas de projetos infra-estruturais substituídas por filiais das grandes multinacionais do design e dos grandes projetos.
Diz o ditado que nada é mais difícil do que ensinar truque novo para cachorro velho. O Brasil está virando um cachorro velho e cada vez mais tapado.