Em Nova Iorque, tal como no parlamento belga, encontrei mais e mais pessoas convencidas de que a islamização de Bruxelas – e de Londres, costumam acrescentar – agora é inevitável e só uma questão de tempo. O prognóstico é imitável, mas a linha exata de pensamento merece qualificação.
Comecemos apontando, sem nos emaranharmos nas estatísticas, que o crescimento da população muçulmana em Bruxelas é imenso e meteórico. Durante os últimos cinquenta anos, o número de muçulmanos cresceu de maneira constante e, dado o enfraquecimento das fronteiras europeias (na realidade, bem como na lei), parece que não há fim à vista.
As estatísticas
Contudo, as estatísticas não são fáceis de estabelecer. Se quisermos nos manter na ciência e na factualidade, não é notando a popularidade do nome Mohamed (Maomé) que visualizamos essa multiplicação de muçulmanos. Esta é uma falácia estatística clássica, corretamente denunciada por Nassim Nicholas Taleb: a popularidade do nome Mohamed continua muito alta entre muçulmanos, então, numa população dividida com quantidades iguais, haverá mais Mohameds do que Peter, Jan e Bart. Assim, isso não "prova" absolutamente nada.
Infelizmente, o último estudo confiável do número de muçulmanos é de 2015/2016. Foi um estudo do Prof. Jan Hertogen, que é, em geral, considerado confiável e foi adotado pelo Departamento de Estado dos EUA. Segundo esse estudo, a porcentagem de muçulmanos em Bruxelas em 2015 era de 24%. O Pew Research Center dá dados mais recentes, mas só para a Bélgica como um todo, sem detalhar por cidades. Numa pesquisa de 2016, 29% dos residentes em Bruxelas declararam ser muçulmanos. Olhando para a curva de crescimento, podemos estimar que a porcentagem de muçulmanos em Bruxelas muito provavelmente está próxima de 30% por volta de 2023.
Assim, os números não são uma evidência de uma maioria muçulmana em Bruxelas: não há nada que sugira isto no momento atual, nem em sua proximidade. Ao contrário das fantasias de certa facção de direita que pensa tão mal quanto a esquerda, a taxa de fertilidade das mulheres muçulmanas na Europa afundou, seguindo a tendência geral (mesmo que permaneça mais alta do que entre as mulheres "nativas": de quem é a culpa?). A fantasia de uma explosão de taxa de fertilidade entre muçulmanas na Europa é, portanto, um puro mito. Dúvidas legítimas sobre o Islã como uma doutrina política não deveriam nos desviar das categorias básicas de raciocínio.
Imigração
Bruxelas não é predominantemente muçulmana, e não há certeza de que venha a se tornar. A imigração não é um fato imutável, como a gravidade. É preciso dizer que, por toda a Europa (excetuada a Valônia), estamos testemunhando um despertar da população e a ascensão ao poder de partidos e personalidades que buscam imigração zero, ou ao menos uma moratória da imigração.
Porque, apesar das alegações da esquerda de que a imigração na Europa é inevitável, não há nada de inevitável na imigração. Foi a jurisprudência insana da Convenção Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) que criou o atual caos migratório, combinada com o desastroso Wir Shaffen Das do mais danoso chanceler alemão desde 1945 (dica: é uma mulher).
A imigração não é um desastre natural que acomete a Europa de modo inevitável, como uma nuvem de gafanhotos uma tempestade de verão. O caos migratório pelo qual estamos passando na Europa é uma catástrofe puramente humana, causada por políticas insanas e juízes sem rosto que não prestam contas a ninguém.
Mas o que foi feito pode ser desfeito. O influxo massivo e imigrantes pelo qual passamos agora pode ser parado: depois de amanhã, neutralizando a CEDH. Sob esse aspecto, será interessante ver o que Geert Wilders traz à Holanda, onde ele pode ter amenizado um pouco, mas ainda pretende acabar com o fluxo de migrantes que arruínam seu belo país. Sair da CEDH é uma opção – entre outras.
A tentação essencialista
O estabelecimento massivo de populações muçulmanas na Europa – 57 milhões de pessoas por volta de 2050, segundo o Pew Research Center – está sendo experimentado de maneira drástica, o que não é uma surpresa, já que se fala de uma significativa proporção dessas populações se radicalizar. Por exemplo, como um resultado do conflito entre Israel e Palestina. A vasta maioria dos atos e ataques antissemitas na França é cometida por muçulmanos. Na Bélgica, preconceito antissemita é muito mais disseminado entre muçulmanos. Passeatas pró-palestinos, desde 7 de outubro, têm sido com demasiada frequência pretextos para odiosos motes antissemitas, de um jeito que nossas ruas não viram desde os comícios do NSDAP nas décadas de 1930 e 1940. Em Londres, o Primeiro Ministro Rishi Sunak condenou os "simpatizantes do Hamas" que foram a essas protestos, "entoando cantos antissemitas e brandindo símbolos e roupas pró-Hamas".
No entanto, devemos nos guardar contra a tentação essencialista que é tão espalhada pela esquerda: os Islã não é uma raça, nem é inevitável. O Islã é uma doutrina política. É possível abandoná-la do mesmo jeito que o socialismo, o ambientalismo ou a religião católica. Não estou dizendo que a maioria dos muçulmanos na Europa vá renunciar ao Islã (nada sugere isso), nem que o Islã na Europa vá se curvar às normas e valores da civilização ocidental (outra vez, nada sugere isso).
Mas considerar que o Islã é uma espécie de bloco inatacável, uma esfinge em face do tempo, que irá permanecer imutável ao longo da curvatura das épocas, deixando de lado todos os outros fatores, esmagando todas as outras considerações, é raciocinar como um islamista, para o qual o Universo se reduz ao Islã e segundo o qual deixar o Islã é um crime nefando.
Noutras palavras, pensar mesmo agora que Bruxelas irá virar inevitavelmente islâmica, para não dizer islamista, é cometer um erro factual e prometer vitória de antemão aos piores extremistas entre os muçulmanos. É um pensamento derrotista por excelência, o tipo de pensamento que Churchill descreveu em sua obra mestra de 1939, o livro World War II, como mais ameaçador que todas as divisões nazistas juntas.
Drieu Godefridi, belga, é doutor em Filosofia do Direito por Sorbonne e autor de "O Reich Verde: Do aquecimento global à tirania verde" (Armada, 2021).
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