| Foto: Geraldo Bubniak/AEN
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Com o passar dos anos, vemos o desrespeito à vida e a forma perigosa de condução de automóveis em todo o território nacional. Temos um binômio que vincula a desatenção e a imprudência que, infelizmente, podem ceifar vidas nas vias urbanas e nas rodovias.

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Mesmo existindo leis para garantir um trânsito seguro nas estradas, a Polícia Rodoviária Federal traz um ranking de infrações cometidas com frequência pelos motoristas e que contribuem para acidentes, alguns graves: velocidade 20% acima da máxima permitida, ultrapassagem em linha contínua, condutor sem cinto de segurança, dirigir sem habilitação, entre outras. Infrações graves que reforçam um trânsito mais agressivo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem anualmente no mundo por acidentes de trânsito, sendo que pedestres, ciclistas e motociclistas estão entre as principais vítimas. Ainda segundo a OMS, o trânsito brasileiro é o quarto mais violento da América, tendo São Paulo com o maior número de óbitos no trânsito (muitos deles por dirigir alcoolizado). Isso acontece mesmo tendo o Brasil a Lei Ordinária 13.546, o Código de Trânsito Brasileiro, que aumenta a punição para o motorista que causar morte dirigindo alcoolizado.

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O Senado Federal enrijeceu ainda mais as leis de trânsito, justamente para reduzir o nível de letalidade nas estradas brasileiras. Mas será que inserir leis que estabelecem multas mais caras e até mesmo reclusão resolverá o problema? Campanhas educativas mais eficazes não seriam melhores que procurar “soluções”, quando a tragédia já ocorreu?

A Austrália, por exemplo, criou há 35 anos a Comissão de Acidentes no Transporte, que estabeleceu regras rígidas, dentro de um contexto impactante para a população. Campanhas foram lançadas mostrando ao telespectador que pequenos comportamentos errados no trânsito geravam violentos acidentes. Essas campanhas mesclavam imagens reais de pessoas comuns que perderam familiares em acidentes de trânsito. O público se viu como protagonista das histórias relatadas e se reconheceu nas campanhas. Funcionou. O índice de mortes em acidentes de trânsito caiu 50%.

Na República Tcheca, vídeos apresentam histórias de pessoas envolvidas em acidentes de trânsito, ressaltando as pequenas infrações como potencialmente geradoras de violentos acidentes. Todos acompanhados de uma gíria local, algo como “bobeou, já era”. Segundo o governo tcheco, em apenas um ano de vigência da campanha os índices de acidentes caíram 12% no país.

No Brasil, as campanhas de trânsito com imagens fortes e de apelo emocional ainda não são frequentes. Alguns governos fazem ações isoladas, mas o que podemos perceber é que elas são insuficientes para mobilizar e provocar mudanças no comportamento do trânsito nas vias públicas. Está na hora de mostrar de verdade, e de forma bem realista, aos brasileiros que são eles mesmos os causadores de tais fatalidades, de maneira a chocar a população. Pode ser um caminho para trazer mais consciência para quem faz uso das vias públicas urbanas e rodovias nacionais.

Hugo Henrique Amorim Batista é especialista em Educação e professor da área de Exatas do Centro Universitário Internacional Uninter.

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