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Opinião do dia 3

Câmpus Central da UFPR: uma idéia para Curitiba

Curitiba é, freqüentemente, lembrada como cidade universitária. Prova irrefutável disso é ter como seu símbolo o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ao longo da história da cidade, bares, confeitarias e livrarias ficaram marcados como tradicionais pontos de encontro de estudantes e intelectuais, a maioria deles na Rua XV ou em suas proximidades. Com o crescimento da cidade e a chegada da cultura dos shopping centers, houve um empobrecimento cultural do centro de Curitiba e o fechamento desses locais. Tal esvaziamento deu lugar, principalmente, à violência, prostituição e tráfico de drogas, gerando insegurança entre as pessoas que precisam freqüentar aquela região.

Atualmente, a revitalização do centro das grandes cidades é um dos maiores desafios postos às administrações municipais. Muitas iniciativas são de sucesso, como ocorreu em Buenos Aires, que revitalizou a área do antigo porto da cidade. Por outro lado, sem precisar passar por esse processo, cidades como Paris e Nova York vêm mantendo o centro como atrativo importante para o cidadão e para o turista. Teatros, museus, cinemas, livrarias, magazines, bares e restaurantes tornam o centro destas metrópoles muito atrativo. Uma peculiaridade das duas cidades: suas universidades mais tradicionais – Sorbonne, em Paris, e Columbia, em Nova York – têm seu câmpus no centro da cidade em plena atividade, com a presença constante de estudantes, professores e intelectuais.

Equivocadamente, alguns acadêmicos acreditam que as universidades devem se isolar em câmpus afastado do centro da cidade, o que facilita ainda mais o esvaziamento cultural do centro. Os estudantes deixam de freqüentar aquela região para freqüentarem shoppings, reunirem-se em postos de gasolina e outros locais, com pouco ou nenhum atrativo cultural. Resultado de tudo isso é o empobrecimento cultural e intelectual dos cidadãos e, por conseqüência, de nossa sociedade.

Para a revitalização do centro de Curitiba algumas idéias já foram colocadas em prática, como a proposta do "Centro Vivo" da Associação Comercial do Paraná. Nós, da Universidade Federal do Paraná, temos a obrigação de preservar o espaço de nosso câmpus central, constituído pelo prédio histórico situado na Praça Santos Andrade, pelo complexo da Reitoria e pelo Hospital de Clínicas. A manutenção dos cursos das áreas das humanidades, das ciências jurídicas e da saúde na área central é importante para a universidade e para a cidade.

Apenso a tudo isso, não podemos esquecer da infra-estrutura cultural já existente nesta região e que poderia ser melhor aproveitada e estimulada. No eixo que se estende entre a Reitoria da UFPR e a Boca Maldita e, em sentido transversal, do Centro de Convenções de Curitiba até o Colégio Estadual do Paraná existe um grande número de teatros e casas de cultura que, se devidamente apoiados, poderiam dar nova efervescência cultural ao centro da cidade. Para exemplificar, cito alguns desses locais: o Teatro da Reitoria, o Teatro Guaíra, o Teatro da Caixa Econômica, o Cine Luz, o prédio histórico da UFPR com seu museu, o prédio antigo dos Correios, o antigo Colégio Santa Maria, a Biblioteca Pública do Paraná, o Teatro do HSBC, centro de línguas (como o Interamericano, o Instituto Goethe e a Cultura Inglesa), a Casa do Estudante Universitário, o Teatro do Colégio Estadual do Paraná, o antigo paço municipal na Praça Generoso Marques, o antigo prédio do Clube Curitibano, hoje desocupado, entre outros. Estimulados e apoiados por órgãos competentes certamente trariam uma nova atmosfera ao centro de Curitiba.

Conseqüência direta dessa nova atmosfera urbana seria o aparecimento de bares e restaurantes nesta região. Políticas públicas para facilitar a implantação disso tudo poderiam ser facilmente realizadas com diminuição do IPTU para os empreendimentos que se adequassem ao projeto, não esquecendo também de idealizar formas que facilitassem o acesso a estes locais, como a construção de estacionamentos subterrâneos e melhorias no transporte público para esta área.

Para alcançar este objetivo, os primeiros passos foram dados esta semana, quando a UFPR lançou oficialmente o projeto "Câmpus Central da UFPR", marcando o início das comemorações dos 95 anos da instituição. O projeto vem sendo trabalhado desde o início de 2006 por um grupo de professores da instituição, a partir da idéia inicial do professor Emanuel Appel, também coordenador do projeto. Já iniciamos conversações com diversos atores do processo e parcerias estão sendo viabilizadas. Uma delas é a parceria com os Correios para a ocupação conjunta daquele antigo prédio, com a possibilidade da criação de uma biblioteca 24 horas a partir do grande acervo bibliográfico da universidade.

Essas são apenas algumas das possibilidades. Elas podem ser ampliadas com a participação de mais pessoas e instituições. O convite é aberto a todos. Afinal, a história de Curitiba passa pela UFPR.

Carlos Moreira Jr. é reitor da UFPR.

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