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Sínteses – Os Jogos Olímpicos de Tóquio deveriam ser definitivamente cancelados?

A vitória está logo ali

Tocha olímpica dos Jogos de Tóquio: adiamento em 2020 e ameaça de cancelamento em 2021. (Foto: Divulgação/Tokyo 2020)

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Acompanhamos com consternação o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos da era moderna, em 1896, o evento foi cancelado em três ocasiões, 1916, 1940 e 1944, em consequência das guerras mundiais. O curioso é que em 1940 a cidade-sede também seria Tóquio.

A realização de um evento com público em 2021 está totalmente fora de questão. O coronavírus gosta de aglomerações. Algumas pesquisas mostram que falar alto ou cantar aumenta o risco de disseminação do vírus. Não é possível imaginar um evento em que 30 mil pessoas consigam manter silêncio e distanciamento social. Seria catastrófico. Como referência, para os Jogos do Rio, em 2016, vieram mais de 1 milhão de turistas. Difícil garantir uma barreira sanitária segura com um número tão grande de viajantes. Além disso, sempre existe o temor de que turistas possam trazer novos vírus de outras regiões. Novas variantes estão circulando com um potencial de disseminação mais rápido e de maior gravidade da doença.

Não podemos falar em risco zero aos participantes, mesmo sendo jovens e fora dos grupos de risco

Resta, então, a possibilidade mais razoável de realizar o evento sem a presença de público. É como estão sendo feitos os jogos do Campeonato Brasileiro. O controle seria feito sobre os atletas. Em 2016, os Jogos do Rio tiveram participação de 10,5 mil atletas. O controle é factível, mas é justificável? O risco não é nulo; tomando mais uma vez o Campeonato Brasileiro como exemplo, sabemos que várias equipes tiveram surtos de Covid-19. Um levantamento de um jornal em janeiro contabiliza pelo menos dez profissionais envolvidos diretamente com o futebol que faleceram em consequência da doença. Não podemos falar em risco zero aos participantes, mesmo sendo jovens e fora dos grupos de risco. Além disso, o fechamento de clubes e centros de treinamento impactou drasticamente na preparação dos atletas, de maneira desigual entre esportes e países, o que afetaria as chances de vitória daqueles mais afetados.

Se com a presença de público o que preocupa é o risco coletivo, nos eventos fechados a preocupação é o risco individual. Imagino que qualquer atleta estaria disposto a correr o risco de contrair Covid-19 para disputar os Jogos Olímpicos; afinal, essa competição é o ápice da carreira esportiva. Mas seria justo pedir a eles que se expusessem ao perigo?

Os principais valores olímpicos são excelência, amizade e respeito. Os Jogos Olímpicos prezam pelo bom exemplo e por princípios éticos universais. São uma celebração de tudo o que há de melhor no ser humano. As aberturas são pura alegria e as arquibancadas são uma festa. Mas neste ano todos estamos sofrendo com restrições à nossa liberdade. Muitos estão de luto em função de perdas pessoais para a Covid. As crianças foram privadas do contato com seus familiares e do ensino e convívio social com seus pares. É difícil imaginar que neste ano os Jogos tivessem o mesmo sentido. Seriam vazios, tristes e um lembrete de que vivemos uma época dura e desafiadora. Assim como seriam aquelas edições que foram canceladas durante as guerras mundiais.

Calma. A vitória está logo ali. As vacinas estão chegando. O desembarque das tropas aliadas começou. Em breve estaremos reunidos, assistindo ao campeonato de futebol da escola, e vamos vestir verde e amarelo, aglomerados na frente da televisão e torcendo por nossos atletas.

Marcelo Abreu Ducroquet é infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo.

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