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À medida que o período eleitoral se aproxima, muitos candidatos a cargos de vereador e prefeito parecem transformar suas campanhas em um espetáculo de presença e devoção, especialmente em locais de grande importância comunitária, como igrejas. Este fenômeno não é novo, mas a frequência com que políticos aparecem em templos durante as eleições, enquanto se mostram ausentes no restante do mandato, merece uma reflexão crítica.
Em uma época em que o voto é cada vez mais decisivo e a imagem pública desempenha um papel crucial, alguns candidatos buscam conquistar a confiança e o apoio da comunidade religiosa. A estratégia parece simples: visitar igrejas, participar de cultos e exibir uma imagem de proximidade com a fé e a moralidade que esses espaços representam. As postagens nas redes sociais reforçam essa aproximação, mostrando fotos e declarações que tentam vincular a candidatura à virtude e à responsabilidade moral.
A participação ativa nas questões da comunidade, e não apenas uma presença temporária durante o período eleitoral, deve ser um critério fundamental na hora de escolher seus representantes
No entanto, o cenário muda drasticamente após o término das eleições. Uma vez eleitos, muitos desses políticos parecem desaparecer das comunidades religiosas que outrora procuraram apoiar. O mesmo fervor e dedicação demonstrados durante a campanha ficam, em grande parte, ausentes ao longo do mandato. O padrão é preocupante: candidatos que, na corrida eleitoral, se mostram próximos das igrejas e de seus fiéis acabam por ignorar as necessidades e preocupações da mesma comunidade após a eleição.
Essa situação levanta questões importantes sobre a sinceridade dos candidatos e a eficácia de tais estratégias eleitorais. O ato de frequentar uma igreja não deve ser reduzido a uma mera tática de campanha; ao contrário, deveria refletir um compromisso genuíno com os valores e interesses das comunidades religiosas. Quando a presença é apenas um truque de campanha, a credibilidade do político e a confiança da comunidade ficam comprometidas.
Para os eleitores, é essencial observar se o envolvimento com a comunidade religiosa é consistente e autêntico. A participação ativa nas questões da comunidade, e não apenas uma presença temporária durante o período eleitoral, deve ser um critério fundamental na hora de escolher seus representantes. A autenticidade e o compromisso contínuo são sinais de que um político realmente valoriza e se dedica à sua responsabilidade pública.
A reflexão sobre esse fenômeno pode servir como um lembrete para todos nós sobre a importância de exigir um comportamento ético e coerente de nossos representantes. A busca por uma liderança verdadeira e comprometida é essencial para o fortalecimento das instituições democráticas e para a construção de uma sociedade mais justa e transparente.
Portanto, da próxima vez que um candidato aparecer em sua igreja durante a campanha, lembre-se de que o verdadeiro valor está na continuidade e na sinceridade de seu envolvimento ao longo de todo o mandato. A fé e o serviço não devem ser apenas uma estratégia, mas uma missão constante.
Willian Jasinski é advogado, com especializações em Direito Aplicado e Direito Previdenciário e do Trabalho.