Qual é, no cenário de abundância que agora se abre para o país, o capital mais escasso? O humano. O Brasil construiu a nona maior economia do mundo por um milagre de engenhosidade e versatilidade de sua gente, mas não investiu na educação de seu povo
Agora que o Brasil virou o darling do mercado financeiro mundial e mantem US$ 230 bilhões em caixa, crédito não tem sido nosso problema. E depois de complertamos vinte anos sem inventar tablitas, planos heterodoxos, congelamentos e tabelamentos e de nos livrarmos dos sacerdotes da magia econômica, a inflação está finalmente sob controle e os juros baixaram a um patamar tolerável. Com isso, os investimentos de longo prazo começam a se multiplicar. Afinal, quem tinha incentivo para investir alguma coisa em um país que havia se transformado em uma nação de rendeiros e juristas, aqueles que vivem de rendas e os que vivem de juros? E como parece que nos livramos também dos exorcistas do capital estrangeiro, prontos a sentir cheiro de enxofre em qualquer investidor que fale uma língua estranha, os capitais externos também estão vindo.
Qual é, nesse cenário de abundância, o capital mais escasso? O humano. O Brasil construiu a nona maior economia do mundo por um milagre de engenhosidade e de versatilidade de sua gente, pois se tivesse de percorrer o caminho habitual de qualificar as pessoas para produzir e só então produzir, ainda estaríamos tocando tambor na selva. Um brasileiro vai em média, seis anos à escola durante sua vida, enquanto que americanos, coreanos e europeus (para não falar nos japoneses e chineses) vão de doze a treze. E fica pouco na escola: cerca de quatro horas por dia, metade do que ficam os outros já citados. Não é de estranhar que sejamos uma nação composta do que os ingleses, entre irônicos e admirados, chamam de jack of all trades and master of nothing, os que "quebram o galho" em tudo, mas não são mestres de nada. Só que, se o Brasil deseja efetivamente se transformar em um país desenvolvido, essa baixa qualificação já não é suficiente. Foi, enquanto estávamos na era das manufaturas simples, dos processos produtivos mecânicos, da agricultura intensiva de trabalho e terra. Agora, as máquinas são eletrônicas, os processos produtivos são cada vez mais sofisticados , a agricultura moderna exige conhecimentos de genética, física e química.
Portanto, a exigência nacional nos leva a escolher entre três alternativas: a primeira é educar a população melhor do que os outros fazem; a segunda é educar a população como o resto do mundo desenvolvido faz; e a terceira... bem, não há uma terceira opção. E isso não é tarefa só do governo, só do setor privado, ou só das famílias. É uma tarefa de todos.
Estou cada vez mais entusiasmado com o modelo que está sendo implantado em Piraquara, por um grupo de voluntários ao qual pertenço, para viabilizar gratuitamente uma educação de padrão internacional para crianças de baixa renda. Trata-se do Centro de Educação João Paulo II. O modelo é simples e se apoia em um tripé: um grupo de indivíduos e empresas dispostos a passar da retórica à ação constrói uma escola com todos os recursos educacionais modernos, que são rotina nos países desenvolvidos mas penosa exceção entre nós; um grupo educacional privado, de alta reputação, que como demonstração de sua responsabilidade social se dispõe a orientar pedagogicamente a escola a ser construída, treinando os professores, definindo os métodos e supervisionando e fiscalizando a qualidade.
Essa escola oferecerá educação infantil para crianças a partir de 3 anos; com isso, se cortará um nó górdio da educação brasileira, em que a criança começa a estudar tarde demais. E trabalhará em conjunto com a escola pública da vizinhança, oferecendo-se gratuitamente para complementar o ensino dado por ela, com o regime de contraturno. Assim, por mais pobre que seja a escola pública, seus alunos terão acesso aos recursos mais modernos de ensino, esporte, ciência, dança e artes...
E qual é o terceiro elemento do tripé? Indivíduos e empresas dispostos a colaborar para que esse tipo de investimento social se mantenha independentemente de favores eventuais. Estamos precisando urgentemente deles.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR e voluntário do Centro de Educação João Paulo II.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026