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O casamento de conveniência entre o capitalismo corporativo e o movimento woke, que se consolidou na última década, está enfrentando turbulências. O que antes parecia uma união mutuamente vantajosa agora mostra sinais de desgaste significativo, sugerindo um possível rompimento.
O marco simbólico desse casamento interesseiro pode ser traçado até a crise financeira de 2008. O colapso gerou uma percepção popular de que as corporações deveriam assumir responsabilidades sociais mais amplas, indo além do lucro. Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF), foi um dos grandes difusores dessa ideia, defendendo que as empresas deveriam harmonizar interesses de diferentes partes e servir à sociedade.
O enfraquecimento do movimento woke e seus impactos financeiros sobre as corporações podem sinalizar uma nova era. Governos eleitos com pautas contrárias ao movimento woke, como o de Donald Trump nos EUA, têm potencial de acelerar essa ruptura
Diante da crise, corporações enxergaram no movimento woke uma oportunidade para redirecionar a raiva popular. Ao adotar causas sociais relacionadas raça, gênero e orientação sexual, as empresas puderam proteger sua imagem e manter sua busca incessante por lucro. Porém, críticas frequentes argumentam que essa abordagem é superficial e desprovida de verdadeira responsabilidade social, servindo mais como uma ferramenta de marketing do que uma transformação estrutural.
O movimento woke, que se popularizou nos anos 2010, propõe "despertar" para injustiças sociais baseadas em atributos genéticos como raça, gênero e orientação sexual. Essa visão divide a sociedade entre opressores e oprimidos, com uma hierarquia que privilegia grupos considerados "minorias". No âmbito corporativo, essa ideologia se traduziu em ações como implementação de cotas, campanhas de inclusão e de "virtue signaling", termo usado para descrever o ato de demonstrar publicamente crenças ou valores morais com o objetivo de se mostrar moralmente superior.
Para as corporações, abraçar o movimento woke era uma estratégia para desviar o foco das críticas ao capitalismo e voltá-lo ao homem branco heterossexual opressor. Como destacou Vivek Ramaswamy em seu livro Woke, Inc., essa aliança foi um "arranjo cínico": empresas ofereceram dinheiro e plataformas, enquanto o movimento emprestou sua superioridade moral para encobrir falhas e abusos. O movimento Black Lives Matter (BLM) teve papel central ao destacar a questão racial. Empresas, ao adotarem suas pautas em campanhas, muitas vezes usaram o movimento de forma superficial, transformando-o em uma ferramenta de marketing sem compromisso real com mudanças estruturais.
Um exemplo claro disso é a Unilever, que promove campanhas como "Toda vez que você se lava com Dove, acorda com Lipton ou limpa com Persil, você está apoiando o fempowerment", enquanto enfrenta processos trabalhistas movidos por mulheres negras quenianas e participa de projetos lucrativos com organizações internacionais. A empresa projeta a imagem de responsabilidade social, mas na prática, seus interesses financeiros continuam prioritários.
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Outro caso emblemático é o da Nike, cuja campanha com Colin Kaepernick foi saudada como um marco de ativismo corporativo. No entanto, a empresa também foi alvo de críticas severas por práticas trabalhistas duvidosas, incluindo acusações de exploração em fábricas asiáticas e africanas com condições de trabalho precárias. Essa contradição gerou um debate acalorado sobre a sinceridade de seu compromisso com as causas sociais.
Os defensores do movimento woke argumentam que, mesmo que as empresas não acreditem nas causas que promovem, sua difusão é benéfica. No entanto, essa aliança tem custos significativos. Ela concede às corporações poder social e político, permitindo que altos executivos transitem entre funções governamentais e empresariais. Esse fenômeno, que Klaus Schwab incentivou, é de difícil reversão e já foi amplamente criticado por pensadores como Roger Scruton, que alertou sobre os riscos de transformar a responsabilidade social em um instrumento de controle político.
No capitalismo woke, empresas que promovem essas causas ganham valor de mercado ao construir uma imagem mais "empática". Elas se beneficiam não apenas de consumidores que simpatizam com essas pautas, mas também de relações com governos e ONGs. Um exemplo controverso é o uso de multas legais para financiar organizações não governamentais escolhidas pelas próprias corporações, o que enfraquece a transparência e prejudica a democracia. Esse arranjo não apenas perpetua a impunidade corporativa, mas também desvia recursos que poderiam beneficiar diretamente os prejudicados.
O casamento entre capitalismo e o movimento woke depende da percepção pública de que essas causas são benéficas. No entanto, essa narrativa está perdendo força. Parte significativa da população não se identifica com a ideologia do movimento woke e começa a se opor ao que considera ser uma imposição cultural. A insatisfação não parte apenas de críticos diretos, mas também de pessoas que antes eram neutras e agora resistem à imposição de dívidas históricas com base em atributos genéticos, como cotas em escolas, universidades e concursos. Além disso, o apelo do movimento woke como uma tendência jovem está se esgotando. Como qualquer "moda", ele perde relevância ao se tornar mainstream.
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O Manhattan Institute apresentou estatísticas que indicam que a resistência ao movimento é crescente, especialmente entre pessoas que enxergam essas pautas como divisivas e alienantes. Pesquisas em 2024 apontam uma queda na procura por termos como "diversidade" e "inclusão" em sites de busca. Além disso, observa-se o abandono de pautas woke por grandes empresas recentemente, como a detentora da marca Jack Daniels e a icônica Harley-Davidson, que agora buscam se distanciar dessas agendas para preservar sua base de consumidores.
A popularização da expressão "Go Woke, Go Broke" reflete esse descontentamento. Empresas como Bud Light e Disney enfrentaram perdas significativas após movimentos de boicote, demonstrando que a adesão ao movimento woke pode trazer riscos financeiros reais. O enfraquecimento do movimento woke e seus impactos financeiros sobre as corporações podem sinalizar uma nova era. Governos eleitos com pautas contrárias ao movimento woke, como o de Donald Trump nos EUA, têm potencial de acelerar essa ruptura, redirecionando o foco corporativo para outras estratégias mais rentáveis.
Esse cenário reacende o debate sobre o papel social das empresas. Milton Friedman, economista laureado com o Prêmio Nobel, argumentava que o único propósito social de uma corporação deveria ser buscar o lucro. Ele advertia que expandir esse papel poderia transformar todas as atividades humanas em mecanismos políticos – exatamente o que ocorreu com a fusão entre capitalismo e o movimento woke. Para um futuro mais equilibrado, é necessário que as empresas priorizem a transparência e a responsabilidade social autêntica com compromisso real com as mudanças sociais defendidas, sem recorrer a alianças oportunistas.
O movimento woke, por sua vez, precisa reaprender a sustentar suas pautas de forma genuína e coerente, sem exageros e imposição de dívidas históricas. Como um movimento que visa diminuir preconceitos e injustiças, que de fato existem, terá mais longevidade motivando a conscientização popular de forma orgânica e se distanciando de relações por conveniência.
Dimitrios Elias Grintzos é engenheiro civil e filósofo.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos