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Capitalismo sem adjetivos: o sistema “menos pior” que já existiu

Monumento a Karl Marx na cidade alemã de Chemnitz. (Foto: Bigstock)

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Capitalismo “consciente”, capitalismo “criativo”, capitalismo “2.0”, capitalismo “sustentável”, capitalismo “democrático”, capitalismo “social”. Vários são os adjetivos anexados ao capitalismo. Há cada vez mais livros pop e artigos de jornal adjetivando o capitalismo, como se o capitalismo tivesse algo negativo e as pessoas queiram “limpar” o conceito de capitalismo, adicionando um adjetivo politicamente correto, fofo e de moda que pisca o olho aos sentimentos e à turma do bem comum.

Na literatura científica o debate é outro. Se fala de “capitalismo de Estado”, ou “capitalismo de mercado”, “crony capitalism”, “capitalismo de laços”, “capitalismo de compadrios”, “capitalismo com características chinesas”, “laissez faire capitalism”. Esses conceitos se referem a dois modelos diferentes, um tendente mais ao livre mercado, o outro mais ao intervencionismo ou dirigismo estatal, ao conluio entre big business e big government.

O livre mercado nunca existiu, é um modelo teórico da ciência econômica e um ideal dos liberais. O capitalismo é uma etapa histórica concreta.

Na verdade, o termo “capitalismo” nasce na literatura alemã de 1800 com autores como Marx, Brentano, Sombart, Simmel, Weber etc. É a época do que depois foi chamado de Revolução Industrial. Não tinha exatamente essa consciência na época, mas se percebia que algo estava mudando. E para denominar e classificar o mundo que vinha a surgir e o sistema econômico nascente surgiu o termo capitalismo.

Um sistema diferente do precedente feudalismo, organizado em latifúndios de propriedade dos senhores onde trabalhavam os servos. Os servos não tinham propriedade (privada). Viviam no terreno do senhor, dormiam em casas, barracos, ou cabanas de propriedade do senhor trabalhavam a terra do senhor, o que produziam era do senhor e até as ferramentas que utilizavam eram do senhor. Era uma sociedade binária e dicotômica, só duas classes, “quem tem” e “quem não tem”. Os fatores de produção eram terra e trabalho. Uma economia baseada em agricultura e artesanato.

Com a Revolução Industrial, o mundo muda. Nasce a classe média, que quebra a dicotomia marxista entre duas classes e faz a revolução industrial. Campesinos e agricultores abandonam os campos e as áreas rurais e vão para as cidades (em bairros periféricos dormitórios), viram operários nas fábricas, “com nada a vender exceto o próprio trabalho”. Eis a especialização, a divisão do trabalho, a cadeia de produção (todos pensam na cena de Charlie Chaplin) e a alienação.

Há uma acumulação de capital sem precedente, as condições econômicas melhoram como nunca antes na história. O fator de produção mais importante agora é o Capital no qual entra também a Terra (na ciência econômica ainda hoje se fala de K e L). Sociologicamente falando, nasce a classe dos capitalistas.

Nesse sistema, não é mais o feudo/terra o fator dominante, mas o capital. O capital é dinheiro, tecnologia, maquinários e meios de produção. É o predomínio do capital em cima dos outros meios de produção (terra e trabalho). E para identificar esse novo sistema nasce o conceito de “capitalismo”. Um sistema de acumulação de capital sem precedente, um sistema de produção em massa, pela massa, para a massa, baseado no capital.

Ou seja, capitalismo não significa, não é e nunca foi “livre mercado”. O livre mercado nunca existiu, é um modelo teórico da ciência econômica e um ideal dos liberais. O capitalismo é uma etapa histórica concreta. Os marxistas criticam o capitalismo porque, segundo eles, o capital determinaria todo o resto, a política, a cultura a sociedade etc.; ou seja, o criticam o capitalismo por ter capital demais. Os liberais o criticam por ter Estado demais mas reconhecem que em comparação aos outros sistemas econômicos gerou muito mais bem estar, no mundo todo, especialmente para os mais pobres. Já os marxistas negam esse fato. Ainda assim, os leigos confundem livre mercado e capitalismo.

Quando os marxistas afirmam que “vivemos em um mundo capitalista”, estão certos. Vivemos em um sistema capitalista e não vivemos em um sistema de livre mercado. O ideal dos liberais é o livre mercado e não o capitalismo. Os liberais não defendem o capitalismo como modelo ideal, mas como o melhor sistema até hoje.

Capitalismo é um sistema menos pior que o feudalismo, pois proveu muito mais bem estar, liberdade e igualdade, para todo mundo, especialmente os mais pobres e no mundo todo, mas está longe de ser livre mercado. Proveu tudo isso sem tentar gerá-los intencionalmente e sem adjetivos.

Adriano Gianturco é coordenador do Curso de Relações Internacionais IBMEC-MG; Lucas Azambuja é professor do IBMEC.

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