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Recentemente, a notícia de que o Papa Francisco irá canonizar o jovem italiano Carlo Acutis agitou as redes sociais e as mídias em geral.
Para os católicos, o jovem é um exemplo vibrante de pureza e santidade num tempo hipersexualizado como o nosso; para os não crentes a visão é mais pragmática: o papa e a Igreja querem exemplos modernos para demonstrar sua vitalidade.
Em ambos os casos, há muita verdade nisso. A Igreja viu no jovem nascido em Londres, no dia 3 de maio de 1991, um exemplo pujante e atraente.
Acometido pela leucemia, faleceu no dia 12 de outubro de 2006, oferecendo seu sofrimento pela Igreja e pelo Papa Bento XVI, em união com os sofrimentos de Cristo na cruz.
Além de ser um exemplo atraente, o jovem Carlo também é um sinal de contradição. Criado numa família de posses, mas que vivia distante da fé, o menino demonstrou interesse pelas coisas de Deus, pela catequese e pela vida de igreja.
Desde pequeno guardava terços e estampas religiosas. Aprendeu a rezar, falava frequentemente com Deus, tinha grande amor pela Virgem Maria e por alguns santos. É curioso que ele admirasse justamente os santos mais jovens, guardando especial devoção por São Domingos Sávio (falecido aos 15 anos), São Luiz Gonzaga (falecido aos 21 anos), Santa Bernadette (falecida aos 36 anos), aos pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta (falecidos ainda crianças, entre 9 e 11 anos).
Assim que fez sua Primeira Eucaristia, passou a confessar-se semanalmente e a fazer direção espiritual. Aos poucos, o jovem aproximou sua família de Deus e da fé.
Gostava de futebol, videogames e computadores. Era um adolescente com gostos semelhantes aos de seus contemporâneos, com a diferença de ter os olhos sempre voltados para o céu e para a eternidade
Os amigos que com ele conviveram, e testemunharam no seu processo de beatificação, são unânimes em referir-se ao jovem beato como uma companhia agradável, como alguém compreensivo, atencioso, extremamente tranquilo e que atraía por não ser como os demais. A sua originalidade estava na própria fé. Ele mesmo escreveu que “todos nascemos originais e morremos como fotocópias”, referindo-se à perda do sentido da própria vida e da renúncia aos valores fundamentais expressos no primeiro parágrafo do Catecismo da Igreja Católica: existimos para conhecer e amar a Deus. Não seremos felizes longe Dele, pois viemos Dele. Carlo descobriu esse caminho muito cedo. Convivia com seus iguais, mas era diferente, pensava diferente e agia diferente. A fé o transformou e deu sentido até mesmo ao sofrimento.
Encantado com o tesouro da fé, elaborou uma pesquisa sobre os milagres eucarísticos além de um material sobre o rosário, embasado nos pedidos de Nossa Senhora em Fátima.
Como grande devoto das aparições de Lourdes e Fátima, sempre referia-se a ambas. Seu desejo era evangelizar pela internet. Não teve tempo de organizar muitas coisas, nem de realizar grandes iniciativas, mas Deus que conhece o coração das pessoas, faz frutificar aquilo que nasce de intenções retas. O site de Carlo não foi o mais acessado e seus materiais não viralizaram durante sua vida, mas após sua morte, Deus fez a reta intenção de seu coração produzir frutos no mundo todo.
Em registro feito pela família assim que descobriram a leucemia, Carlo falava diante das câmeras com a costumeira vergonha dos adolescentes, mas com a clareza dos sábios: “estou destinado a morrer”.
A lembrança da morte próxima não o desanimou, mas ensinou-lhe a ciência dos santos: quem pensa no seu fim procura conhecer e amar a Deus enquanto existe tempo.
Sua vida foi curta e teve fim no dia 12 de outubro, dia de festa para os brasileiros que celebram a padroeira.
Anos depois, um sacerdote brasileiro, Padre Marcelo Tenório, de Campo Grande-MS, conhecendo a história de Carlo e vendo nele aqueles sinais próprios da vida dos grandes santos, fez contato com a família. Deu-lhes uma imagem de Nossa Senhora Aparecida para que fosse colocada no antigo quarto do jovem - que era preservado intacto pela família - com o pedido de que o milagre requerido pela Santa Sé saísse do Brasil. Assim os pais pediram ao “apóstolo cibernético” e ele assim o fez.
Na capela de Nossa Senhora Aparecida, pertencente à paróquia do Padre Marcelo Tenório, se deu o milagre da beatificação, tal como pediram. A vida de Carlo, na eternidade, dava sinais de que continuaria sendo o mesmo jovem inquieto, com desejo de aproximar as pessoas de Deus.
Sua mãe, Antônia Salzano Acutis, que segundo os médicos não poderia mais gerar nenhum filho, sonhou com Carlo lhe dizendo que teria mais irmãos. Tempos depois nasceram dois irmãozinhos do beato. Em outro sonho disse à mãe que seria beatificado e canonizado logo. De fato, em menos de vinte anos de sua morte ele já será santo canonizado.
O Papa Francisco deixou sua canonização para as comemorações do ano jubilar, mas o amor que seu exemplo e sua paixão por Cristo deixam já arrastam dezenas de jovens, e até adultos, mesmo antes da declaração final da Igreja.
Na família de Carlo, através da linhagem materna, já existem dois grandes santos canonizados: Santo Afonso de Ligório, bispo e doutor da Igreja e Santa Giulia Salzano. Ambos se ligam à família de Antônia Salzano Acutis e agora também ele, o mais novo, será elevado à honra dos altares.
Santo Afonso ensinava que “toda santidade consiste em amar a Deus e todo amor à Deus, em fazer sua vontade”. O desejo mais profundo de Carlo Acutis era justamente o de agradar a Deus e fazer Sua vontade. Que este exemplo eloquente nos inspire a buscar as coisas do alto.
Luiz Raphael Tonon é professor, historiador e leigo consagrado que se dedica à educação há quase duas décadas.
Conteúdo editado por: Aline Menezes