“Sim à vida”: marcha contra a eutanásia e o aborto realizada em março de 2024 em Madrid, Espanha.| Foto: EFE/Fernando Villar
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O caso da brasileira de Minas Gerais Carolina Arruda ganhou repercussão na mídia em 8 de julho, após ela fazer uma campanha para arrecadar fundos para ir até a Suíça em busca de uma eutanásia ou suicídio assistido, que é permitido no país europeu. A motivação da jovem era a dor extrema que ela sentia devido a neuralgia do trigêmeo, condição médica que causa dores alucinantes, citada por alguns especialistas como a “doença do suicídio”.

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Ocorre que, após repercussão do caso, uma equipe médica se prontificou a oferecer um tratamento com a melhor técnica médica e ela já está sem sentir dor, sentindo-se hoje “feliz e esperançosa”, conforme declaração que deu à reportagem do G1, em 16 de julho. O tratamento será ofertado por médicos gratuitamente, devido à repercussão do caso.

A eutanásia e o suicídio assistido são recursos que se valem do desespero de pacientes, combinado a falta de conhecimento de equipes médicas sobre como tratar uma doença difícil

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A primeira lição do caso é que a eutanásia é uma atitude desesperada, sem autonomia. A campanha em prol de seu próprio suicídio assistido era uma atitude desesperada. O ser humano diante da dor extrema perde a clareza e capacidade de tomar decisões racionais, de certa forma, perde-se graus da liberdade humana.

Isso demonstra como as leis que permitem eutanásia e suicídio assistido são nocivas à sociedade e ao ser humano. Elas abrem uma janela para o precipício; ante ao desespero, pessoas acabem com suas vidas em decisões erradas. O que todo paciente deseja é sua cura ou alívio da dor, desesperado, afirma que “quer morrer”. Sua manifestação de vontade em morrer não deve ser vista como “autonomia do paciente”. Para uma pessoa ter autonomia, ela deve ter liberdade, que não existe de modo pleno na dor extrema e com prognóstico médico de que “não há cura ou tratamento”.

Se a eutanásia e o suicídio assistido fossem liberados no Brasil, ou se a moça tivesse obtido rapidamente os recursos para dar fim à própria vida, ela estaria enterrada agora. Ela não estaria “feliz e esperançosa”, tampouco uma equipe médica estaria usando neuroestimuladores da medula espinhal, tampouco iria testar a bomba de infusão intratecal, descompressão vascular do nervo trigêmeo, e toda a terapêutica que a equipe de médicos agora está buscando. Em resumo, agora a paciente está feliz e a medicina está sendo usada como deve, buscando superar seus próprios limites técnicos e com ética.

A reportagem do G1 mais recente detalhou a estratégia complexa e bem elaborada que a equipe médica possui, com diversas alternativas para tratamento da doença. Antes, dizia-se que não havia solução para ela senão sofrer aquela dor alucinante. Agora, outros médicos apresentam um plano com diversos recursos.

A paciente, quando pedia pelo suicídio assistido na Suíça, já havia consultado 50 médicos, segundo a reportagem. Apesar de tantos médicos envolvidos, não havia solução. E só depois da repercussão que apareceu uma equipe capaz de curá-la. Por que o tratamento apareceu tão tardiamente?

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A comunidade médica pode bem aproveitar este caso para renovar seu ânimo e compromisso em prol dos estudos de melhores práticas para doenças difíceis de tratar, bem como renovar seu compromisso ético na abordagem desses casos. Não se deve esperar que o paciente se desespere a ponto de desejar a morte. Não se deve dar uma sentença de “sem tratamento” somente porque você médico e (mais 49 colegas!) não encontram respostas satisfatórias. Antes que a paciente chegasse ao desespero, a equipe médica deveria ter levantado alternativas eficazes.

De fato, a eutanásia e o suicídio assistido são recursos que se valem do desespero de pacientes, combinado a falta de conhecimento de equipes médicas sobre como tratar uma doença difícil. Mas a evolução científica é posta em xeque diante de “soluções” que pretendem ser muito práticas, como dizer que “não há outro tratamento”.

Parte da mídia, também gosta de aproveitar estes casos para colocar em debate o tema da eutanásia e suicídio assistido, que são ferramentas da cultura da morte e dessa visão de mundo secularista em que não há transcendência na vida. Dar fim à vida por meio de eutanásia e suicídio pode representar um entrave na evolução científica e humana sem precedentes.

Marlon Derosa, master em Bioética pela Fundación Jérôme Lejeune (Espanha), doutorando em bioética pelo Pontifício Ateneu Regina Apostolorum (APRA), é autor com cinco livros publicados e cofundador do Instituto Pius. 

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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