O Brasil conta hoje com mais de 815 mil organizações que atuam no terceiro setor. O levantamento, realizado pela FIPE e coordenado pela Sitawi Finanças do Brasil, revela ainda que essas entidades somam cerca de 6 milhões de vagas de trabalho. Tudo isso tem representatividade no Produto Interno Bruto brasileiro de mais de 4%, um impacto importante.
Porém, com todos esses números animadores, resta a pergunta: o terceiro setor é profissional? Sabemos que ainda falta um bom caminho para estimular o profissionalismo na área. Seja na administração, contabilidade, área jurídica, comunicação, assistência social, psicologia, educação: para funcionar de forma eficiente e com segurança jurídica, nada pode ocorrer no improviso.
As pessoas beneficiadas pelas ações do terceiro setor, muitas vezes, são bastante vulneráveis, com direitos básicos não garantidos.
E quem deseja entrar para esse time precisa buscar uma boa qualificação, pois os desafios são diversos. Isso porque as pessoas beneficiadas pelas ações do terceiro setor, muitas vezes, são bastante vulneráveis, com direitos básicos não garantidos. Mais um motivo para profissionalizar as equipes que farão o trabalho.
É o caso do Dorcas, organização que atua há 28 anos em Almirante Tamandaré (PR) e hoje atende 300 crianças, sendo 200 na sede principal no bairro Bonfim e 100 no bairro Cachoeira, com aulas de música. O projeto de ensino de música começou pequeno e hoje, 13 anos depois, é um case de sucesso.
Quando começou em 2010, tratava-se de um projeto de extensão da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), ou seja, os professores eram alunos da licenciatura em música. No início, havia aulas de flauta doce e de canto coral. Com a chegada de novos profissionais, o projeto tomou corpo maior. Desde aquela época, sempre priorizamos pessoas que estivessem se formando no curso de licenciatura em música ou curso superior de instrumento, justamente para manter essa linha de qualidade dos professores. Depois, pessoalmente, comecei a me interessar cada vez mais pelo tema de projetos sociais e música, qual o papel da música nesses projetos. O que ela realmente pode fazer? Pois acabei fazendo mestrado em Educação e depois doutorado na interface da Educação com a Psicologia Social Comunitária. E ao longo desse período atuei como coordenadora do projeto Música no Bairro, dentro do Dorcas, por vários anos.
A experiência de profissionalização e segmentação foi seguida por outros profissionais. Os novos coordenadores do projeto também procuram especializações e diversas outras capacitações. Temos uma equipe de professores bastante competente e qualificada, porque para dar aulas de música num projeto como o Dorcas, você tem que ter uma qualificação extraordinária. Além disso, o próprio professor precisa ter todo um apoio, porque os problemas que se encontram lá são muito intensos e desafiadores.
Posso resumir minha experiência com essas palavras: a música chega em lugares muito profundos dentro de nós, lugares que nem conseguimos processar com palavras – e que podem nos sensibilizar e transformar de formas incríveis! Além da dedicação dos professores, a qualidade musical no se vê na carreira que já deslancha entre os ex-alunos do projeto. Para dar alguns exemplos, Leonardo Melo hoje cursa o segundo ano de Licenciatura em Música na Unespar; Douglas da Silva Corrêa cursa Licenciatura em Música na Universidade Federal do Paraná e Adriano Trarbach acaba de se formar em Bacharel de Flauta Doce em Hamburg, na Alemanha, em breve finaliza o Bacharelado em Violoncelo e já tem planos para o mestrado.
Renate Weiland é doutora em Educação, criadora do Projeto Música no Bairro, eixo de música do Projeto Dorcas e atualmente coordena a expansão do núcleo de música do Projeto Dorcas.
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