O crime cometido por Daniel Alves repercutiu nos noticiários, mas o debate sobre o tema foi ínfimo. Não se trata de julgar Daniel Alves, mas de ver o caso e essas denúncias como algo grave que deve gerar a seguinte discussão: por que é tão comum ver violência contra a mulher no futebol?
Esses casos dizem muito sobre a naturalização da cultura do estupro no esporte, que objetifica corpos femininos. Por que isso acontece? É um ambiente muito masculino, que é quase 100% dominado por homens, a representatividade feminina é muito pequena. Assim, homens se sentem confortáveis para reproduzir o machismo estrutural nesses locais.
No universo masculino, existe uma espécie de pacto para proteção das acusações de machismo e normalizar a ideia de objetificação do corpo feminino.
Eles se sentem confortáveis fazendo comentários sobre corpos de mulheres e tratando-as de maneira desprezível, tudo isso é naturalizado no futebol porque é considerado uma piada. Exemplos onde essa lógica de “piada” já foi implementada foram os comentários para o jogador Mbappe durante a copa, pelo seu relacionamento com uma mulher trans. As mulheres também são alvo da misoginia pelo diferente tratamento que a Copa do Mundo masculina recebe da feminina.
Tudo isso é um reflexo da lógica sexista e misoginista que permeia o futebol. Outro fato que contribui com a violência de gênero no esporte é o fato de que a maior parte dos líderes são homens, o que significa que a maior parte das acusações de sexismo e assédio são abafadas.
No universo masculino, existe uma espécie de pacto para proteção das acusações de machismo e normalizar a ideia de objetificação do corpo feminino. Isso faz com que o abuso seja algo normal nessa esfera. Podemos observar esse pacto com algumas notícias sobre como Daniel Alves foi recebido na prisão, com até alguns pedidos de autógrafos.
Por fim, outro fator que não pode ser descartado é o volume de dinheiro e fama que é gerado pelo futebol, o que significa que esses crimes muitas vezes são trivializados em virtude de serem “estrelas” do esporte. É um universo que cria uma ilusão de que é possível “fazer tudo”, “que tudo pode ser comprado”, assim as mulheres são objetificadas e tratadas como um bem.
Mayra Cardozo é advogada especialista em Direitos Humanos e Penal.
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