Cantando o Glória, proclamamos dirigindo-nos a Deus, "Tu só és santo". Santo significa que não tem nada com o que é imperfeito, fraco, precário. Nesse sentido somente Deus é realmente santo. Somente Ele está acima do mundo perecível e efêmero no qual vivemos. Também os homens podem, no entanto, elevar-se para Ele e participar de sua santidade.

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Cada discípulo de Cristo empreendeu esse caminho de aproximação à santidade de Deus. Consideremos como São Paulo inicia algumas de suas cartas: "a todos os santos que se acham em Filipos" (Fl 1,1); "aos santos de Éfeso" (Ef 1,1); "aos irmãos em Cristo, santos e fiéis de Colossos" (Cl 1, 2); "a todos que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos" (Rm 1,7). O apóstolo não escreve para pessoas que se encontram entre os anjos do céu. Dirige-se a pessoas concretas que vivem sobre esta terra: habitam em Filipos, em Éfeso, em Colossos, em Roma. São esses os "santos". Santo é todo o discípulo, quer ele esteja já com Cristo no céu, quer viva ainda na face da terra.

A festa de todos os santos é a festa da família cristã. É o dia em todos os homens tomam consciência do dom que o Pai lhes concedeu em Cristo. Deus tornou-os membros da sua família, comunicou-lhes seu Espírito, sua santidade. A santidade não é uma condição superior que possamos alcançar com nossos esforços ascéticos, não é fruto do nosso heroísmo, é um puro dom de Deus. Só Ele pode tornar-nos santos.

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Quem são eles? É a comunidade dos santos no céu. São os que neste mundo suportaram as tribulações e perseguições e doaram sua própria vida pelos irmãos como fez o Cordeiro. Os homens os consideram derrotados, mas para Deus são vencedores. Jesus - o Cordeiro imolado doou a própria vida - agora vai adiante, como um pastor, de todos aqueles que condividem sua escolha de amor.

A vida de Deus que o cristão recebe no batismo é uma realidade espiritual, misteriosa. Falando com Nicodemos, Jesus comparou-a com o vento que não sabe donde vem e nem para onde vai (Cf. Jo 3, 8); existe, notam-se os sinais que manifestam sua presença, mas não pode ser vistos com os olhos. A vida divina é um dom gratuito do Pai. Ainda que não possa ser verificada com os sentidos, sua presença não passa despercebida porque produz sinais inequívocos que todos podem constatar.

O Pai não aguarda o dia da nossa morte para nos dar essa vida divina, Ele no-la dá já hoje. Todavia essa nova realidade que existe em nós só se manifestará quando for tirado o véu que é constituído pela nossa condição terrena. Isso acontecerá quando "Ele se manifestar nós seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal qual Ele é" (Cf. 1 Jo 3, 2). Aquele do qual aguardamos a manifestação, aquele que um dia veremos face a face, é Cristo. Quando pudermos contemplá-lo, entenderemos também quem nós somos realmente.

Hoje nos apresentamos enganados pelas aparências, somos seduzidos pelas miragens, não estamos em condições de dar o justo valor às realidades terrenas, supervalorizamos o que é passageiro e descuramos o que realmente importa. Diante de Cristo nossos olhos abrir-se-ão. E então compreenderemos o que Deus fez em nós.