O lançamento de ferramentas como o ChatGPT e outros avanços da inteligência artificial que permitem produzir textos e soluções de problemas com qualidade em poucos minutos podem parecer uma ameaça ao setor da educação. Será que as pessoas não saberão mais pensar, só copiar? Aqui entra o conceito de que a própria educação precisa mudar, pois só transmitir informação não é mais necessário. Algo que questiono há anos e que agora está ainda mais visível.
É preciso ensinar as crianças a pensarem e, a partir daí, construir boas perguntas. Até mesmo para aproveitar da melhor forma a inteligência artificial. Hoje, nosso objetivo como educadores é que os estudantes de todas as idades tomem consciência de que são seres pensantes e que, a partir disso, podem procurar respostas e soluções próprias e ir muito além. Para isso, existem algumas rotinas de pensamento, pelas quais podemos provocar a criança nessa construção – e aqui me refiro desde pequenos, para o resto da vida.
Precisamos perceber como a criança pensa, o caminho que realiza na construção do pensar.
Fazemos isso com perguntas inteligentes, não rasas ou destinadas à simples memorização. Tanto pais quanto as escolas não podem subestimar a criança, e sim acreditar em sua potência. Não entregar respostas prontas é um dos desafios nesse caminho. Tudo isso faz parte de um movimento para amadurecer o trabalho cognitivo e fazer com que a criança evolua no uso da criatividade, aproveitando oportunidades que a envolvam na produção do conhecimento.
Trata-se de algo que parece fácil, mas é complexo, principalmente num contexto de imediatismo e consumismo em que estamos inseridos. Ao mesmo tempo, a educação tradicional irá ficar cada vez mais defasada. Precisamos auxiliar no desenvolvimento integral da criança, construindo sobre os quatro pilares do respeito à infância: construção de autonomia, construção do pensamento, vínculo positivo com a aprendizagem e desenvolvimento dos aspectos sócio emocionais. A meta é criar seres humanos mais "completos", seja qual for a situação, que consigam desenvolver sua inteligência e empatia.
Alguns exemplos que gosto de citar são as práticas consistentes da metodologia educacional Reggio Emilia e o Projeto Zero da Universidade de Harvard, que trabalham com a construção da visibilidade do pensamento. Precisamos perceber como a criança pensa, o caminho que realiza na construção do pensar, o que se mostra muito útil em questões complexas como, por exemplo, a construção da ética.
São novos desafios trazidos pela transformação digital, e quanto antes atuarmos com base nessa nova mentalidade, melhor para educadores, estudantes e toda a sociedade.
Marianna Canova é mestre em Educação e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil, em Curitiba (PR).
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