A última do presidente venezuelano, Hugo Chávez, busca fechar campos de golfe em seu país. São os moinhos de vento da vez. Ele zombou dos carrinhos de golfe que ilustrariam a preguiça inerente ao esporte. Uma alegada carência de habitações também fez com que o governo agisse, afirmou Chávez. Sustenta que Maracaíbo tem muitas favelas enquanto o campo e o terreno do Hotel Maracay estendem-se por 30 hectares de uma área imobiliária valorizada. Isso para que algum grupo pequenino de burgueses e pequenos burgueses possa jogar golfe – disse ele, um fã do beisebol. Segundo o noticiário, autoridades pensam em construir casas de baixa renda no campo de golfe ou transformá-lo em um câmpus da Universidade Bolivariana. Chávez diz: "Eu respeito todos os esportes. Mas há esportes e esportes. Esse é um esporte do povo?" E responde: "Não, não é".

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O golfe é um esporte dos mais interessantes em especial pela ética que contém. Premia-se o mérito, a capacidade de resolver as mais difíceis enrascadas nas quais se enfia. Não toma em consideração o tempo. É necessário concluir as jogadas e finalizar embocando a bolinha. Vence quem faz, não quem espera o tempo passar. A malandragem não é aceita. Ninguém pode se atirar na área para, enganando o juiz, obter uma premiação indevida. O jogo é tão inteligente que resvala na estupidez fraudar o resultado. Diferentemente de outros esportes, há raríssimos casos de trapaça no tour profissional.

Estes tempos Thomas Friedman escreveu belíssimo artigo publicado no New York Times sobre Tom Watson que, aos 59 anos, liderava o British Open à frente de jogadores muito mais jovens, mais atléticos e altamente qualificados. Friedman se identifica com Watson. Pensou: como pode um homem da minha idade, com problemas nos quadris iguais aos meus, desafiar esses garotos?

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Com um jogo perfeito e um pouco de má sorte, Watson perdeu no último buraco. Sobre isso Friedman escreveu: "Golfe é jogado em um terreno irregular planejado para surpreender. Boas e más quicadas são construídas dentro da essência do jogo. E a razão pela qual o golfe é tão parecido com a vida é que o jogo – como a vida – é sobre como vo­­cê reage às boas e às más quicadas. Nesses mo­­mentos, a quem você culpa? O caddy, aquela pessoa que carrega seus tacos? Você rouba? Você arremessa seus tacos? Ou você aceita com dignidade e graça e segue adiante como Watson sempre fez." Ao perder uma tacada, não há outra pessoa a recriminar senão a si mesmo. Aceitar dignamente o resultado é algo que mora no íntimo de cada um, mesmo quando altamente desfavoráveis.

Diz o ditado: Jogue golfe uma vez com alguém e você aprenderá tudo o que precisa para conhecer seu caráter. É disso que o golfe trata, do caráter do indivíduo, da graça e da dignidade como se responde a cada imprevisto ou desilusão que a vida te impõe. É um esporte que existe e é incentivado em democracias relevantes que premiam a ética e o mérito. Isso não é algo próprio da política sul-americana. Eliminar campos de golfe acentua o tratamento bovino da população pela política. Eliminar campos de golfe não diminui a carência das habitações, mas mostra muito das limitações dos líderes, incapazes de respeitar interesses privados e individuais, fundamentais a qualquer democracia. Eliminar campos de golfe denota o quão risível é a condução da política nestes trópicos, feita para iludir e angariar votos com fundamento em uma ideologia rasa.

Paulo Henrique Rocha Loures Demchuk é advogado e mestre em Direito.