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Chega de mau humor

A bola já está rolando na Copa do Mundo e não são muitos os sinais nas ruas de Curitiba indicando que o Brasil é a sede do maior evento futebolístico do mundo e que a cidade é uma das capitais escolhidas para receber alguns dos jogos do evento. Timidamente, a celebração aparece em fotos nas redes sociais, mas quem veste as cores nacionais ainda sofre algum patrulhamento.

Onde estão as bandeirinhas do Brasil nos carros, nas janelas das casas, à venda nos semáforos? Onde está a ânsia pelo Mundial, o espírito esportivo e patriótico que toma conta das cidades, dos escritórios, das escolas, e que é tão característico deste único mês a cada quatro anos em que torcemos juntos, uma nação inteira, pelo mesmo time?

A Copa já chegou e tem um custo. Nem tudo correu como o programado, nem todas as obras estão completas, nem todas as expectativas foram superadas. O povo foi às ruas insatisfeito com a gastança mal administrada do dinheiro público, cansado da corrupção, da falta disso, falta daquilo. De fato, falta muita coisa e, independentemente da orientação política, o povo tem em suas mãos uma arma muito mais poderosa do que imagina. Protestos, passeatas pacíficas – e não as entristecedoras demonstrações de vandalismo e criminalidade – são muito importantes. Mas depredar o patrimônio público, vestir camisas pretas em dia de jogo, vaiar os dirigentes da Fifa, a presidente e outras autoridades na abertura da Copa não são formas coerentes e tampouco corretas de se mostrar indignação. Ao contrário, ações como estas apontam para uma falta maior ainda: a falta de educação e, principalmente, de respeito. É vergonhoso que muita gente ache isso certo.

Respeito é o ponto de partida para tudo. O voto consciente nas eleições que se seguirão aos eventos da Copa do Mundo também expressam uma indignação muito mais profunda do que qualquer outro protesto.

Há quatros anos também vivíamos época de eleições, estávamos em meio à grande crise econômica que eclodiu em 2008, e o povo, onde estava? Por que as ruas não estavam cheias como agora? É muito fácil apontar um único culpado para todos os problemas que a sociedade vive. A verdade é que não existe solução milagrosa para nada. Toda mudança demanda tempo, exige medidas menores, mas essenciais para que o objetivo final seja atingido.

Agora não é mais a hora de nos revoltarmos. Também não se trata de usar a Copa do Mundo para mascarar o que ainda precisa ser feito. O povo está amargurado, cético, fechou a cara para uma das coisas das quais sempre tivemos tanto orgulho: o esporte!

Vamos deixar o mau humor escurecer ainda mais as ruas que tanto já sofreram com as obras incompletas, com o dinheiro mal aplicado, com a corrupção, ou vamos iluminá-las com as cores vivas do Brasil?

Isadora Boroni Valério é advogada.

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