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A mera contemplação de uma possível invasão da China em Taiwan traz à tona uma miríade de perigos iminentes e consequências potencialmente devastadoras. A Ásia-Pacífico é uma região marcada por uma intrincada rede de relações geopolíticas, econômicas e culturais, e uma invasão chinesa, em Taiwan, poderia desencadear uma série de eventos com repercussões globais.
Há algum tempo a China tem mantido uma postura militar sempre que Taiwan demonstra independência. Nesta ocasião específica, a visita do vice-presidente da ilha, William Lai Ching-te, aos Estados Unidos, em 16 de agosto, desencadeou essa resposta. De acordo com o comunicado do Ministério da Defesa de Taiwan, a condução desses exercícios militares não apenas perturba a tranquilidade e a estabilidade no Estreito de Taiwan, mas também evidencia uma atitude belicista e expansionista, confirmando a natureza autoritária e militarista da China.
Veicular matérias sobre a invasão de Taiwan na mídia estatal chinesa enviaria um sinal claro de desrespeito à soberania e à integridade territorial de Taiwan.
O elemento mais perigoso dessa situação é a resposta dos Estados Unidos. Como defensor tradicional de Taiwan, os Estados Unidos provavelmente não ficariam de braços cruzados em face de uma invasão chinesa. Isso poderia levar a um conflito direto entre duas das maiores potências mundiais, com consequências imprevisíveis e catastróficas. Além dos fatores geopolíticos, há considerações humanas a serem lembradas. A população de Taiwan tem suas próprias identidades, valores e sistema político. Uma invasão chinesa iria de encontro aos desejos de muitos taiwaneses e poderia desencadear resistência interna, potencialmente levando a conflitos prolongados e dolorosos.
Não obstante, a utilização da mídia estatal chinesa para veicular informações sobre uma hipotética invasão de Taiwan traz consigo uma série de perigos e implicações que vão além do campo midiático. Em agosto, a China começou a transmitir um documentário chamado Perseguindo Sonhos (Chasing Dreams), no principal canal estatal de TV, o CCTV.
Com oito episódios, a série documental mostra como o exército está se preparando para atacar Taiwan e exibe cenas em que soldados dizem que colocariam a própria vida para defender o país. A produção cinematográfica, que está disponível no Youtube, é uma das ações de comemoração do 96º aniversário do Exército de Libertação Popular (ELP) e exibe exercícios militares ao redor de Taiwan, território localizado ao leste da China. Essa abordagem pode ter efeitos significativos nas esferas política, diplomática e social, aumentando ainda mais as tensões já existentes na região da Ásia-Pacífico.
Isso porque, ao usar a mídia estatal para veicular matérias sobre uma possível invasão de Taiwan, a China estaria moldando a percepção pública tanto em seu território quanto internacionalmente. Isso pode criar uma narrativa que justifica suas ações agressivas e influenciar a opinião pública, dificultando uma visão imparcial dos acontecimentos e reforçando a ideia de uma "necessidade" da ação militar.
Do ponto de vista diplomático, essa estratégia seria altamente provocadora e inflamatória. O uso da mídia estatal para promover a invasão de um país vizinho aumentaria consideravelmente as tensões regionais, minando os esforços para manter a estabilidade e a paz. Países ao redor do mundo poderiam ver essa atitude como uma violação do direito internacional e da diplomacia, motivando condenações e potencialmente resultando em sanções.
Por fim, essa abordagem poderia prejudicar as relações bilaterais entre a China e outras nações, particularmente aquelas que têm laços com Taiwan. Veicular matérias sobre a invasão de Taiwan na mídia estatal chinesa enviaria um sinal claro de desrespeito à soberania e à integridade territorial de Taiwan, causando uma reação negativa e potencialmente levando a um isolamento diplomático.
Rhuan Fellipe Cardoso da Silva, advogado, pós-graduando em Direito Internacional e porta-voz do movimento Democracia Sem Fronteiras Brasil.