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China: da política do filho único ao não desejo de ter filhos

Imagem ilustrativa. (Foto: EFE)

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O número de nascimentos na China em 2021 foi o menor em décadas em várias províncias chinesas, segundo a publicação de domingo (24) do Global Times, jornal estatal chinês. A taxa de crescimento da população total da China desacelerou e deve entrar em crescimento negativo antes do fim do período quinquenal que se encerra em 2025.

Ainda em julho, Pequim comunicou o resultado do censo demográfico do país, que, no final de 2021, registrou 1,411 bilhão de habitantes, sendo ainda a nação mais populosa. Mas por pouco tempo. A pesquisa revela que logo a Índia irá ultrapassar a China.

A informação que chama atenção é de que, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, em comparação aos dados divulgados em 2010, a população chinesa teve uma média de crescimento de 0,53% por ano. O progresso mais lento desde 1960. Entre as 10 principais províncias chinesas, apenas seis apresentaram taxas de nascimento acima de 500 mil/ano.

A província de Hunan, por exemplo, localizada no centro da China, pela primeira vez em 60 anos teve menos de 500 mil nascimentos. Outro dado relevante foi a terceira cidade mais populosa da China, Henan, que teve menos de 800 mil nascimentos pela primeira vez desde 1978. Já na região leste do território chinês, a província de Jiangxi apresentou um número menor que 400 mil, também considerado inédito desde 1950.

Destacamos que uma baixa taxa de natalidade gera preocupação e é consequência dos projetos políticos adotados pelo governo chinês, como por exemplo, a política do filho único que perdurou por muitos anos na região, e, atualmente, a pandemia da Covid-19.

No ano de 2015, a China deixou a política do filho único e possibilitou que casais tivessem até dois filhos. A decisão de abandonar a política implementada desde a década de 1970, teve como o foco evitar riscos econômicos ligados ao envelhecimento da população e a redução da força de trabalho. Mas será que essa medida não veio tarde demais?

A queda no número de nascimentos coloca o governo chinês em uma situação crítica, pois poderá haver falta de força trabalhadora no país. Sabe-se que a China é conhecida por oferecer postos de trabalho análogos à escravidão para manter seus indicadores econômicos altos, pouco importando quem executará o serviço. Essa estratégia depende da existência de um grande número de trabalhadores.

Importante lembrar que mesmo quando em vigor, a política do filho único criou no imaginário popular a ideia de que os casais deveriam ter filhos homens, desprezando qualquer criança que não servisse de força de trabalho para o país. Além disso, o alto custo de criação e educação de uma criança na China e o custo de vida nas grandes cidades chinesas igualmente têm levado os casais a desistirem de ter filhos. Um número maior de mulheres chinesa também têm optado por se dedicar mais ao trabalho do que à maternidade, impactando nas taxas de natalidade.

A pandemia também colocou em xeque o desejo da população de ter filhos. A política de Covid-zero, implementada pelo governo chinês, gerou insegurança sobre a liberdade na rotina diária dos chineses. A Covid-19 "aumentou as incertezas da vida cotidiana e a preocupação com o nascimento de um filho", relata o porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas da China, Ning Jizhe, ao jornal Global Times.

Apesar de a economia chinesa ter crescido muito nas últimas décadas, houve um custo enorme de sacrifícios da população. E os reflexos disso estão aparecendo agora. Grande parte da população chinesa tem medo de retornar ao passado, e não desejam ter mais filhos e expô-los ao sistema totalitário chinês.

Jorge Ithallo dos Santos, presidente do Democracia Sem Fronteiras, movimento em defesa do direito à democracia no mundo.

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