Georg Simmel, ao considerar que um sujeito exposto à violência inesperada dos estímulos típicos das cidades modernas requer um consumo muito grande de energia psíquica, afirma que esse sujeito teria uma reação defensiva, ou seja, seria um indivíduo com a capacidade de reação diminuída, tendendo a se desligar do mundo como uma forma de adaptação à realidade. Esta atitude blasé foi descrita por Walter Benjamin, para quem a cidade moderna possui um efeito "narcótico". A consequência maior disso é a dificuldade de inserção individual diante deste ambiente desumano.
Esse habitante, nessa situação sem memória, não produz nada, só consome. Os esforços de atenção não são capazes de trazer à tona lembranças do inconsciente. Pelo contrário, o relaxamento da atenção abre caminho para o esvaziamento da consciência. A intensa movimentação é um elemento intrínseco das cidades modernas e, à medida que se aumenta esta velocidade, aumentam as desvinculações das pessoas com os lugares por onde se movem.
Para Christian Norberg-Shultz, as relações com o ambiente construído deveriam estimular o sentido de pertencimento através da permanência e da identificação. O contrário gera alienação.
O sujeito da razão já havia sido desbancado pelos humanistas, pela fenomenologia, mas o sujeito da percepção, da sensibilidade, ainda não. A arquitetura e o urbanismo atual contribuem para essa desconstrução produzindo "cidades genéricas", conforme o arquiteto holandês Rem Koolhaas.
A memória será um importante elemento de projeto e de crítica na arquitetura a partir dos novos paradigmas teóricos e dos novos temas definidos pelo pós-modernismo. Dentre esses paradigmas e temas, a teoria do lugar será um dos principais ímãs da memória para as disciplinas da arquitetura e do urbanismo, na medida em que enfatiza a dimensão da experiência humana (perceptiva, rememorativa, representativa) com o espaço e a ideia do espírito do lugar.
A permanência do "lugar" permite que o homem encontre a sua própria estabilidade. A identidade humana pressupõe a identidade do lugar e, atualmente, ainda são os lugares históricos das cidades que são os fornecedores de lembranças e das memórias capazes de reintegrar o indivíduo ao coletivo urbano.
Memória-lugar, lugar-identidade, memória-identidade laços fundamentais de toda uma racionalidade projetual e analítica terão forte influência nas normas de pensar e de construir a cidade pós-moderna.
Uma das pesquisadoras mais importantes desta linha de pensamento, Paula Uglione, questiona: pode uma nova concepção de memória na/da cidade ser um caminho para a "invenção de critérios" para pensar, conceber, construir e habitar as cidades do século 21?
Jeferson Dantas Navolar, arquiteto e urbanista, é presidente do CAU/PR.