As eleições municipais de 2024 são uma grande oportunidade para refletirmos sobre o verdadeiro significado de liderar, principalmente quando se tratam de grandes cidades. Governar metrópoles demanda muito mais do que promessas de campanha. Administrar grandes centros urbanos exige uma liderança multifacetada, que equilibre competência técnica, visão de futuro e capacidade para articular soluções que ultrapassem os ciclos eleitorais. É necessário um entendimento profundo dos problemas estruturais que afetam a vida de milhões de cidadãos.
O papel de um líder em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife ou Porto Alegre não é apenas o de ser uma figura pública carismática. Mais do que isso, ele ou ela deve ser capaz de mediar conflitos, navegar entre dilemas nas suas escolhas, tomar decisões impopulares e, acima de tudo, ter clareza de propósito. A gestão de uma cidade grande é um teste diário de maturidade política e habilidade técnica.
Como um líder municipal pode lidar com problemas que, muitas vezes, transcendem as fronteiras de sua cidade e até mesmo do seu país?
Em vários municípios, as campanhas eleitorais têm sido marcadas por debates acalorados e trocas de ofensas entre candidatos. Isso, no entanto, desvia a atenção do que realmente importa: como os candidatos pretendem enfrentar os desafios estruturais e, mais importante, quais são as suas capacidades reais de implementação. A retórica política pode ser encantadora, mas governar é muito mais do que discurso – é a habilidade de enfrentar desafios imensos, onde não existe uma solução simples ou popular.
As grandes cidades precisam, cada vez mais, lidar com problemas globais que impactam diretamente suas populações locais. Mudanças climáticas, emigração em massa, transformações tecnológicas e crises econômicas internacionais afetam a dinâmica de qualquer grande metrópole. Nos momentos de crise, como os enfrentados em diversos municípios durante a pandemia, vimos a importância de líderes que souberam equilibrar a ciência com o pragmatismo, o curto prazo com o planejamento de longo alcance. Mais recentemente estamos acompanhando o grande desafio enfrentado pelos líderes municipais diante da situação de clima seco, queimadas criminosas e focos de incêndio e de fumaça poluente.
Então pergunto: como um líder municipal pode lidar com problemas que, muitas vezes, transcendem as fronteiras de sua cidade e até mesmo do seu país? Por exemplo, políticas de mobilidade urbana exigem investimento em infraestrutura, mas também coragem para repensar o uso dos espaços públicos, enfrentando grupos de interesse poderosos. Da mesma forma, as políticas de habitação e saneamento não são apenas questões técnicas – elas envolvem escolhas políticas que muitas vezes desagradam alguns setores privilegiados da sociedade.
Em 2024, eleitores terão a chance de decidir quem estará à frente de suas cidades pelos próximos quatro anos. Esse é um momento decisivo. Eleger um líder com visão, capacidade de gestão e compromisso com o bem público será crucial para o futuro das metrópoles brasileiras. Mais do que nunca, o eleitor precisa olhar além das polêmicas momentâneas e das acusações trocadas em debates e focar no essencial: quais são as propostas que realmente podem transformar a realidade de sua cidade?
Eleger um líder que seja capaz de mediar os interesses de uma cidade com milhões de habitantes, muitos deles vivendo à margem dos serviços essenciais, é uma responsabilidade enorme. A verdadeira questão não é quem será o próximo prefeito ou prefeita, mas qual será a sua capacidade de conduzir a cidade com um olhar crítico, inovador e com um compromisso inegociável com o interesse público. Afinal, nas mãos desses líderes estará o futuro do bem-estar e bem viver de milhões de vidas.
Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e na transformação de negócios. Atua como conselheira em companhias como Camil Alimentos, CPFL Energia, Smart Fit, BP São Paulo e Grupo Cassol.
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