A pandemia nos trouxe uma lição ainda não aprendida por todos: o investimento em ciência e tecnologia precisa ser maior e mais efetivo do que vinha sendo nos últimos anos.
Aparentemente temos desenvolvido mais os espetáculos de todas as ordens, alguns, como os musicais, teatrais, lives com pensadores, evidentemente necessários; mas mesmo estes não poderiam ocorrer sem tecnologia, e protegem a população melhorando a permanência em isolamento social nesta catástrofe. É preciso lembrar que a contribuição do progresso técnico para o crescimento econômico têm sido comprovada por várias pesquisas, e somente uma pequena parte deste crescimento tem sido relacionada aos investimentos de capital.
A mudança técnica e na qualidade da mão-de-obra são também interdependentes do avanço científico, e este da educação ministrada em nossas escolas, o que tem sido complexo na fase atual, porém nunca foi exatamente fácil desde a época do Brasil Colônia, na qual recebemos uma educação importada e parcamente implementada que aparentemente temos arrastado com poucas alterações até os dias atuais. Embora correto que em épocas anteriores o sistema educativo brasileiro assumiu diversas formas na tentativa de adaptação a algumas mudanças, fixando novos objetivos e criando estratégias, a maior parte não apresentava profundidade e não atacava os problemas de base, não obtendo sucesso em atingir os objetivos: nosso ensino sempre foi deficiente e o próprio objetivo de alfabetização em massa nunca foi atingido.
No entanto agora as mudanças são muito diferentes das ocorridas no passado, podemos dizer que nenhuma reviravolta da história humana colocou professores frente a desafios comparáveis a esses atuais, a arte de educar em época de confinamento sofre metamorfose em todo o planeta, e o conhecimento que sempre foi valorizado como representação do mundo, surpreende até as pessoas mais jovens e antenadas com a evolução tecnológica. Da noite para o dia foi necessário mudar as metodologias, os instrumentos e a concepção da escola.
Se antigamente escolas traziam soluções derivadas da comunidade para que estudantes resolvessem seus problemas pessoais de manutenção de famílias e exercício profissional rendoso, no mundo atual estamos em busca de que seres humanos tragam soluções privadas para os problemas políticos, econômicos ou sanitários postos pela sociedade como um todo.
Recente pesquisa mostra que praticamente 90% dos docentes que nunca tinham tido qualquer experiência com um ensino a distância, dos quais mais da metade não receberam suporte ou treinamento para atuar de maneira não presencial, estão tendo que se reinventar completamente, apesar da sobrecarga e do estresse. Sozinhos ou com poucos familiares em casa, muitas vezes dependentes de auxílio de filhos e até dos próprios alunos para contornar suas dificuldades tecnológicas, parecem conscientes de que quando o mundo parece desmoronar é mais preciso do que nunca manter a lucidez e definir as reais prioridades.
A humanidade é resiliente, vive, estuda, passa por momentos terríveis: guerras, outras epidemias, surtos terroristas, ditaduras, calamidades naturais. Todos passaram, muitas vezes cobrando preços altos em vidas e destruição, mas poderiam ter sido muito piores se não houvesse resistência, se não existissem aqueles que cumpriram seu dever.
Quando pensamos no incrível heroísmo de profissionais de várias áreas que estão se exaurindo física e mentalmente para salvar vidas, manter as condições sanitárias e de segurança das cidades, preservando nosso direito à informação, esquecemos que eles estão “apenas” fazendo a sua obrigação, e é isso que os faz extraordinários. Os professores são parte desse grupo, a educação é uma das prioridades referidas, existe um compromisso quase sagrado com a manutenção das aulas em quaisquer circunstâncias que agora são ministradas em sua maioria em plataformas online. Sem avanço científico o processo educativo não teria continuidade, e com sua ampliação poderia estender à camada mais necessitada da população os serviços de internet e também abastecimento de água, luz, esgoto, melhores moradias.
Qualidade de vida para todos e inclusão social tem na ciência e na tecnologia parceiros indispensáveis.
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil (UniBrasil).
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