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Enquanto o Brasil assiste, atônito, à atuação contrária à ciência e pesquisadores brasileiros, com cortes de verbas e a propagação política do descrédito social à razão científica, o mundo recebe de braços abertos estes profissionais. Pesquisa recente do Instituto Pew Research Center comprovou que na maior parte do mundo, onde não há campanhas contrárias à ciência e aos cientistas, a maioria da população acredita que investimentos do governo em pesquisas científicas geram benefícios para a sociedade.

A pesquisa internacional do Pew Research Center, realizada com públicos na Europa, Ásia-Pacífico, Estados Unidos, Canadá, Brasil e Rússia, encontra amplo consenso global sobre o valor da pesquisa científica. Uma média de 82% dos participantes considera o investimento do governo em pesquisa científica valioso, e a maioria em todos os lugares considera importante o país ser um líder em realizações científicas. O estudo lança luz sobre como o público vê o lugar da ciência na sociedade em meio ao cenário global em transição para a pesquisa científica e inovação.

Os EUA tiveram a maior parcela dos gastos globais em pesquisa e desenvolvimento no ano passado. Porém, nos últimos anos houve maiores investimentos em ciência também em Taiwan, Coreia do Sul e China continental. Quando olhamos para o Brasil, somente 23% dos respondentes da pesquisa afirmaram ter confiança plena na ciência. Outros 36% afirmaram ter alguma confiança e o mesmo porcentual de 36% afirmaram não ter nenhuma confiança na ciência e nos cientistas.

As avaliações do público em cada país sobre suas próprias realizações científicas mostram como os brasileiros vêm passando a não acreditar nos resultados da ciência internamente. Uma média geral entre os países de 42% afirma que suas realizações científicas estão acima da média ou são as melhores do mundo. No entanto, as ações com essa visão variam de 8% no Brasil a 61% nos EUA e no Reino Unido. Ou seja, o Brasil é o país que acredita menos nos resultados de sua própria ciência.

Essa discrepância entre como a ciência e seus pesquisadores têm sido tratados no Brasil e no resto do mundo tem estimulado grande parte dos nossos cientistas a migrar sem olhar para trás. Cérebros que ao longo das últimas décadas nutriram o conhecimento em diferentes áreas extremamente necessárias ao país agora estão a caminho dos EUA, da Europa e da Ásia com passagem só de ida. Um prejuízo incalculável para a sociedade brasileira, que não terá de volta esses filhos cientistas.

Discrepância entre como a ciência e seus pesquisadores têm sido tratados no Brasil e no resto do mundo tem estimulado grande parte dos nossos cientistas a migrar sem olhar para trás.

Enquanto o governo brasileiro imprime ao longo dos últimos três anos uma política de contenção e negação da ciência, nos EUA, por exemplo, o governo americano abriu as portas para cientistas brasileiros. Em três anos, o número de profissionais brasileiros altamente qualificados aprovados para morar no país deu um salto. Os dados mais recentes mostram que foram emitidos 4,3 mil vistos de imigração para cidadãos com carreiras profissionais excelentes no Brasil (na categoria em que se encaixam os cientistas e pesquisadores) – um aumento de 74% em relação a 2015, quando houve 2.478 vistos concedidos.

Outros dados do Bureau of Labor Statistics americano confirmam este aumento da migração de cérebros made in Brazil para os EUA. O mapeamento recente mostra que, dos 27,2 milhões de trabalhadores estrangeiros empregados nos EUA, mais de 33% já trabalhavam em ciências, administração, negócios e artes. Cientistas que decidiram dedicar seus esforços em um país com maior valorização e reconhecimento de suas atuações.

É preciso também considerar que estes profissionais, ao se acoplarem à pesquisa cientifica em outros países, dificilmente retornarão ao seu país de origem. Nos EUA, por exemplo, portando o documento de residência permanente (o green card) por cinco anos, já é possível ao pesquisador peticionar a cidadania americana. Um cenário de acolhimento e reconhecimento científico que dificilmente fará o pesquisador considerar o retorno ao Brasil.

A política de negacionismo da ciência, de desmonte da pesquisa científica e da desmoralização pública dos profissionais da ciência atualmente aplicada no Brasil já tem custado e, se mantida, custará ainda mais um alto preço para a sociedade brasileira, que amargará nos próximos anos, a triste realidade de que os governos são passageiros, a ciência não.

Rodrigo Lins, mestre em Comunicação e pesquisador da imigração americana, reside legalmente nos EUA e é autor de “Internacionalize-se: Parâmetros para levar a carreira profissional aos EUA legalmente”.

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