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O clima pesou: ação humana desenfreada pode levar a danos ambientais irreversíveis

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Desmatamento ilegal no Pará. (Foto: Ronan Frias Semas/Fotos Públicas)

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Recentemente divulgado, o sexto relatório de avaliação IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostra que estamos em um ritmo de mudanças climáticas muito mais acelerado e arriscado que o previsto em análises anteriores.  O principal fator? As atividades humanas. Por meio da emissão dos gases de efeito estufa, a humanidade aumentou 1,1º C a temperatura da superfície global. Segundo o relatório, essas atividades passam pela desigualdade de estilos de vida, padrões de consumo e produção, além de seguirem contribuindo para o problema com o uso insustentável de energia e da terra.

Tudo isso aumentou a chance de eventos extremos e nos levou a efeitos adversos generalizados, tais como impactos devastadores na segurança alimentar e hídrica, na saúde humana, nas economias e na sociedade. São inúmeros danos à natureza e às pessoas e eles estão cada vez mais irreversíveis. Não há precedentes de algo assim ao longo de muitos séculos e por muitos milhares de anos.

Precisamos correr contra o tempo e focar nos recursos que temos para escalar soluções e educação climática.

Dados comprovam que mudanças climáticas reduziram a segurança alimentar e hídrica. Isso acontece por conta do aquecimento da terra, gerando mudanças dos padrões de precipitação. Em ambientes urbanos, as mudanças climáticas causaram impactos adversos na saúde humana, nos meios de subsistência e infraestrutura. Ondas de calor se intensificaram nas cidades e também pioraram os eventos de poluição do ar.

Além disso, as mudanças climáticas afetam a saúde física e mental em diversas regiões, contribuindo para crises humanitárias em áreas de alta vulnerabilidade social. Em todas as regiões, o aumento de eventos de calor extremo resultou em mortalidade e morbidade humana. A ocorrência de doenças transmitidas por alimentos e água aumentou, assim como a incidência de doenças transmitidas por vetores (como insetos), devido ao crescimento de sua reprodução com o calor. Doenças humanas e animais, incluindo zoonoses, estão surgindo em novas áreas.

O atual contexto é preocupante e as evidências científicas nos mostram claramente que tudo isso está acontecendo de modo muito mais acelerado do que imaginávamos. Contudo, o aumento de acordos climáticos internacionais, ambições nacionais para a ação climática, juntamente com a opinião pública e conscientização, estão também apoiando os esforços para lidar com a mudança climática em vários níveis de governança. As políticas de mitigação têm contribuído para a diminuição da intensidade – e ansiedade – global de energia e carbono, com diversos países alcançando reduções de emissões de GEE (gases de efeito estufa) por mais de uma década.

Políticas e mercado precisam cobrar os caminhos do desenvolvimento para a sustentabilidade na mesma medida em que ampliar o portfólio de recursos disponíveis.

As emissões em 2030 anunciadas em outubro de 2021 indicam que o aquecimento excederá 1,5°C durante o século 21 e tornaria mais difícil limitar o aquecimento abaixo de 2°C. Apesar do progresso, os desafios de adaptação persistem, com muitas iniciativas priorizando o risco de curto prazo de redução, dificultando a adaptação transformacional. Muitos países sinalizaram a intenção de alcançar emissões líquidas zero de GEE ou emissões líquidas zero de CO2, contudo todas as estratégias de mitigação enfrentam desafios de implementação, incluindo riscos tecnológicos, dimensionamento e custos. Outro problema é que existem lacunas de adaptação entre os níveis atuais de adaptação e os níveis necessários para responder aos impactos e reduzir os riscos climáticos.

Há evidências crescentes de má adaptação em vários setores e regiões. Exemplos são observados em áreas urbanas, agricultura, ecossistemas e assentamentos humanos. A má adaptação afeta especialmente os marginalizados e vulneráveis (por exemplo, povos indígenas, minorias étnicas, famílias de baixa renda, pessoas que vivem em assentamentos informais), reforçando e consolidando as desigualdades existentes.

O que precisa ser feito hoje para termos um amanhã? Acelerar. Precisamos correr contra o tempo e focar nos recursos que temos para escalar soluções e educação climática, além de perpetuar arcabouços sociais, governamentais e econômicos capazes de implementar, mensurar e quantificar ações. Criar comprometimento e engajamento reais em prol de conscientizar e disseminar acesso à informação, às ferramentas e aos recursos disponíveis. Ações que priorizam a equidade, a justiça climática, a justiça social e a inclusão levam a resultados mais sustentáveis: gerar benefícios, reduzir trade offs, apoiar mudanças transformadoras e promover a resiliência climática. Por isso, também se destaca a importância de criar mecanismos baseados em confiança, benefícios mútuos, colaboração e reconhecimento.

Obviamente, existe um período de adaptação socioeconômica, sendo vital uma abordagem integrativa de adaptação e desenvolvimento a longo prazo. Transições mais rápidas e maiores investimentos que visam benefícios. Inteligência, tecnologia e ferramentas precisam estar acessíveis, ser amplamente difundidas e compartilhadas. E, em paralelo, políticas e mercado precisam cobrar os caminhos do desenvolvimento para a sustentabilidade na mesma medida em que ampliar o portfólio de recursos disponíveis. Para agricultura, muitas opções de gestão de terras e de resposta do lado da demanda (por exemplo, escolhas alimentares, redução das perdas pós-colheita, redução do desperdício de alimentos) podem contribuir para erradicar a pobreza e eliminar a fome enquanto promove boa saúde e bem-estar, água limpa e saneamento, e vida na terra.

Em paralelo, opções de reflorestamento, manejo florestal aprimorado, sequestro de carbono no solo, restauração de turfeiras, litoral azul e gestão de carbono são exemplos de métodos apontados como solução a fim de melhorar a biodiversidade e as funções do ecossistema, emprego e meios de subsistência locais. Nossas escolhas hoje irão reverberar por milhares de anos.

Paula Scherer, empreendedora, especialista em fermentação, produtos e tecnologias no setor de alimentos e saúde é COO da Ateha e consultora de novos negócios.

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