Gosto de um ditado que diz: “Colhemos o que plantamos”. Por mais que os resultados demorem a aparecer, em algum momento os efeitos de nossas ações passadas emergem em nossas vidas, queiramos ou não enxergar isso.

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O cenário favorável da economia mundial, com efeitos positivos sobre o preço das commodities brasileiras, além das reformas realizadas nos governos dos presidentes Fernando Henrique e Lula, ajudam a explicar o bom desempenho da nossa economia na primeira década do milênio. No entanto, o momento favorável acomodou Lula e a sua equipe econômica de tal forma que eles apenas colheram os frutos, no segundo mandato, esquecendo-se de manter uma boa semeadura.

No primeiro mandato da presidente Dilma, as políticas econômicas adotadas para estimular a economia foram alteradas de maneira mais nítida e, juntamente com a deterioração do cenário internacional, resultaram em frutos colhidos não saborosos ou nutritivos.

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O brasileiro médio está acostumado com um Estado paternalista e muitas vezes populista, sendo compatível com sua visão de curto prazo

No segundo mandato, a presidente parece ter se convencido de que é preciso mudar a semeadura. No entanto, ela disse que ia plantar um tipo de semente para os eleitores e para sua base de apoio político e está querendo plantar, pelo menos em parte, o tipo sugerido pelo seu principal oponente na última eleição.

Com essa estratégia, a presidente conseguiu garantir o quarto mandato consecutivo do Partido dos Trabalhadores, mas também acabou por se colocar em uma encruzilhada: ela parece saber da necessidade de reformas, mas tem uma base política e popular que é contra as mesmas, até mesmo por enfatizar na campanha que elas não seriam necessárias. No entanto, se nada for feito, os cenários econômico e político serão muito desfavoráveis no momento das próximas eleições federais e estaduais.

Embora eu esteja convencido da necessidade de reformas e ajustes – inclusive com redução dos direitos trabalhistas e mudanças tributárias, permitindo reduzir a burocracia e a carga tributária e, desse modo, melhorar o desempenho econômico brasileiro no longo prazo, o que seria positivo para todos os cidadãos –, percebo a resistência das pessoas quando se toca no assunto. O brasileiro médio está acostumado com um Estado paternalista e muitas vezes populista, sendo compatível com sua visão de curto prazo.

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A presidente e sua equipe aproveitaram bem essa característica do brasileiro médio no momento eleitoral, mas também adotaram uma visão de curto prazo ao negligenciar os efeitos sobre o apoio político e popular para as reformas que se fazem necessárias, ainda mais quando se considera o momento delicado decorrente dos escândalos da Petrobras e da fratura política que ficou exposta a partir da estratégia do vale-tudo eleitoral. Infelizmente para a presidente e seu núcleo político, os frutos estão aparecendo rapidamente.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da FEA-RP/USP.