Os excelentes números conquistados pelas commodities agrícolas brasileiras nos últimos anos não têm se repetido com o panorama alimentar da sociedade no país. Se por um lado se comemoram safras recordes e vendas dolarizadas, por outro há um contingente de pessoas desempregadas e famintas nas cidades brasileiras. Nesse contexto, surgem algumas questões: onde estão os alimentos de mesa? Por que não produzimos alimentos de qualidade do brasileiro com a mesma competência das commodities agrícolas?
No setor agropecuário brasileiro, a produção de commodities é considerada oligopolizada, com forte concentração de produtores em algumas regiões brasileiras, como: soja e milho na Região Centro-Oeste; cana-de-açúcar e produção do açúcar no Sudeste e parte do Centro-Oeste; e café na Região Sudeste. Já a produção de alimentos de mesa está organizada com grande número de pequenos e médios produtores, parte importante deles relacionada à agricultura familiar, tornando-os tomadores de preço com produção voltada para o mercado doméstico.
Com isto, a falta de alimentos para a mesa do brasileiro se dá pelo desalinhamento estrutural entre estes dois segmentos da agricultura brasileira. Para tanto, o país precisa avançar em tecnologias de produção e comercialização, promovendo inovações sociais para melhor distribuir suas riquezas alimentares. A atividade agropecuária brasileira é caracterizada por forte heterogeneidade regional e entre culturas, assim como entre estruturas produtivas, dada a presença de organizações empresariais bem estruturadas em termos de governança, e a presença da pequena agricultura e da agricultura familiar com estruturas de gestão em desenvolvimento.
A complexidade destes mercados tem mostrado que não se pode contar para sempre com a vocação natural produtiva desta nação, bem como com sua extensão de biodiversidade, para garantir alimentação de qualidade ao seu povo. Quem não gostaria de ter alimentos saudáveis em sua mesa?
Quem optar pelo manejo agroecológico de produção agropecuária concorda com sistemas alimentares que, de acordo com a Lei 10.831/2003, são aqueles que “adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”.
Os alimentos orgânicos estão se tornando um importante segmento da agricultura em inúmeros países, independentemente de seu estágio de desenvolvimento, já representando uma parcela significativa do sistema alimentar.
A demanda dos consumidores por alimentos produzidos de forma orgânica gera oportunidades para agricultores, negócios no mundo todo e, claro, novos desafios. O interesse crescente dos consumidores tem acarretado novos posicionamentos do setor público, sendo premente a necessidade de informações claras e objetivas acerca desse assunto.
Nelson Roberto Furquim é engenheiro de alimentos, docente do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordenador do Grupo de Extensão AgriMack-Mackenzie Agribusiness. Marta Fabiano Sambiase é doutora em Administração de Empresas, professora assistente do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e pesquisadora do Grupo de Extensão AgriMack-Mackenzie Agribusiness e do Núcleo de Estudos em Competitividade (NEC). Elvio Corrêa Porto é doutor em Administração de Empresas, professor adjunto do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Grupo de Extensão AgriMack-Mackenzie Agribusiness.
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